PRIMEIRAS LETRAS

Sempre atribuí minha facilidade para escrever ao ensino recebido no Ginásio Anchieta e no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, somado naturalmente ao gosto pela leitura. Mas até o gosto pelos livros a gente desenvolve quando o ensino é puxado e de qualidade. Na verdade, estava relegando a segundo plano – um grande equívoco – a formação que recebi no Grupo Escolar Farrapos e no Colégio Madre Margarida de Encantado. É que, no fundo, acreditava que meu bom desempenho, aí, fosse, em grande parte, decorrente da influência de meu pai na comunidade, pois ele era um médico e político muito querido e respeitado. O passar do tempo me demonstrou que a verdade era outra: em Encantado, fui muito estimulado a ler redações em público, a declamar poesias no CTG, a participar de quizz na Rádio ZYU32 ou no cineteatro Marabá, enfim, a mostrar algum valor e a meter os peitos. Com oito ou nove anos de idade. Por lá, fiz meu Exame de Admissão ao Ginásio e o terceiro lugar que obtive no Alto Taquari encarei sempre como fruto de simpatia familiar e um tanto de sorte. Mesmo que assim possa ter sido, foi fundamental para conseguir matrícula no disputado Ginásio Anchieta, pois, vindo do pequeno interior gaúcho, os jesuítas da época, aqui na Capital, exigiam que se apresentasse bagagem curricular com certa distinção. Tenho, portanto, de ser muito grato a Mestras como Lilia Chanan, Terezinha Abreu, Wilma Tarter, Ilsa Miguelina Bratti e a outras tantas abnegadas. Não é por nada que foi muito comentada na família, por vários anos, uma redação que fiz no Grupo Escolar e que Dona Lilia, depois, foi mostrar a meus pais. A nota mais interessante daquele trabalho foi a escolha do título. Mostraram em aula um quadrinho em que um guri, no Natal, espiava tristemente a chuva pela janela, cheio de belos brinquedos guardados, como bicicleta, patins, piorra, funda, carrinho de lomba, bola e outros. A maioria da piazada tascou o título de Natal, Natal com chuva, triste Natal. Eu coloquei UMA CHUVA IMPEDIDORA e tirei dez. Não me canso de proclamar a façanha, pois foram os professores que "carimbaram" o feito e elevaram minha moral. Como foram importantes aqueles primeiros anos, hoje me dou conta. Não que eu seja grande coisa ou que pretenda apresentar-me como referência, longe disto, mas é indiscutível que o fato de escrever com alguma destreza me ajudou muito a ganhar o pão de cada dia e este depoimento pode ser útil aos jovens. Gostaria muito; creio que serviu à conscientização e ao desenvolvimento dos filhos. Prestar serviço às pessoas, formar gente, ter alguma utilidade social, foi coisa relevante que aprendi nos bancos escolares na mais tenra idade.