Visita a Heidelberg (Alemanha)

Garanto breve descanso ao dileto leitor. Esta é a antepenúltima crônica da série sobre minhas recentes viagens a Londres e a cidades da Alemanha. Depois de narrar visita a Rothenburg, restam-me comentar passeios por Heidelberg, Würzburg e, finalmente, Frankfurt. Aí, então, lhe será concedida merecida pausa, até que volte a importuná-lo com novas investidas literárias.

Percorridos cento e setenta quilômetros, desde Rothenburg, chegamos a Heidelberg, famosa cidade alemã, banhada pelo rio Neckar. Sua população é estimada em cento e quarenta mil habitantes, o que lhe confere o título de a quinta maior comunidade germânica.

Heidelberg teve a data de sua existência divulgada em documento oficial de 1196. Significa, portanto, que se deu a conhecer há mais de oitocentos anos. Trata-se de antiga residência de um dos sete

príncipes-eleitores, denominação atribuída aos membros do colégio eleitoral do Sacro Império Romano-Germânico.

Essa importante comunidade é visitada por cerca de três milhões de pessoas, anualmente. É a localidade que mais recebe turistas na Alemanha. E não é para menos. Seus atrativos pontos de visitação são acolhedores e ricos do ponto de vista arquitetônico e cultural.

Valeram a pena nossos esforços para conhecê-la. Hoje, depois de retornar ao Brasil, já faço planos para revê-la, juntamente com outras pérolas do território alemão.

Antes de descrever significativos locais visitados em Heidelberg, deslumbrando-me com vistas exuberantes de sua privilegiada natureza, e a cada instante instruído quanto ao passado histórico desse lugar encantador, peço permissão ao leitor para informar-lhe, se ainda não o sabe, que a rainha Sílvia, da Suécia, filha do empresário alemão Walther Sommerlath e da brasileira Alice Soares de Toledo, nasceu em Heidelberg, no dia 23 de dezembro de 1943.

A família Sommerlath viveu em São Paulo de 1947 a 1957, onde a jovem Sílvia Renate Sommerlath estudou no colégio alemão Visconde de Porto Seguro. Sua Alteza Real fala seis idiomas: sueco, alemão, francês, espanhol, português e inglês.

Os Sommerlath retornaram à Alemanha em 1957. Em 16 de junho de 1976, Sílvia tornou-se rainha consorte da Suécia, ao desposar o rei Carlos XVI Gustavo.

Em nossas andanças pela cidade, que não foram poucas, conhecemos a Universidade de Heidelberg, a mais antiga da Alemanha, fundada em 1386, por Ruprecht I (1309-1390). Esse admirável templo do saber destaca-se por ser famoso na área de medicina.

A Universidade de Heidelberg, com trinta mil estudantes matriculados, é constituída de doze faculdades, pelas quais passaram cinquenta e cinco ganhadores do Prêmio Nobel. Anualmente, mil doutores concluem seus cursos em diversas áreas do conhecimento humano, sendo que trinta por cento são de outros países. Foi lá que, em 1518, Martinho Lutero promoveu a Reforma Protestante.

Depois da visita a universidade, estivemos por alguns momentos passeando pela praça que leva seu nome, localização da Fonte do Leão do Palatinado. A área é espaçosa, com jardins, árvores e bancos destinados ao descanso dos transeuntes. Pessoas idosas como nós aproveitam aqueles instantes para relaxar os músculos doloridos, causados pelo exaustivo caminhar de um dia dedicado às visitações turísticas. Diz o adágio popular: “Cobra que não anda, não engole sapo”. Aproveito a deixa para parafrasear esse velho ditado: “Turista que não anda, pouco aproveita”.

Estivemos na Ponte Velha ou Alte Brücke, construída no século XVIII pelo príncipe Karl Theodor, ligando a cidade às margens do rio Neckar. Compartilhamos por alguns momentos a companhia de uma legião de turistas. Abusamos da máquina fotográfica sem dó nem piedade. Na ocasião, fotografamos a escultura de um macaco, talhada em bronze por Gernot Rumpf e instalada no local em 1979.

Consta que no século XV existia nessa ponte outra escultura de macaco, destruída durante a Guerra de Sucessão do Palatinado, deflagrada entre 1689 e 1693. Palatinado significava o domínio exercido por um palatino, isto é, um príncipe da corte.

Na Ponte Velha, também contemplamos as esculturas do príncipe Carl Theodor, que a mandou edificar, e da deusa romana da sabedoria, Minerva, filha de Júpiter. De lá, ainda vislumbramos o rio Neckar serpenteando por seu leito espaçoso, edifícios e monumentos históricos, além do antigo portão da cidade, que fica em uma de suas extremidades. Vimos, finalmente, o Castelo de Heidelberg, do qual falarei em seguida.

No dia 08 de novembro de 2014, a bordo do funicular, veículo movido por força motriz estacionária, com tração feita por cabos de aço, fomos conhecer o Castelo de Heidelberg, situado a oitenta metros de altura, e uma das mais famosas lembranças da Época Medieval. Trata-se de significativo conjunto de edifícios renascentistas, considerado no século XVI um dos mais belos da época.

O renascimento foi o movimento intelectual surgido em Florença, na Itália, entre 1420 e 1520, opondo-se aos modelos da Antiguidade

Greco-romana e à tradição medieval.

A construção do conjunto de edifícios do Castelo de Heidelberg ocorreu num período de quatrocentos anos. Constitui-se de edificações de variados estilos, principalmente o gótico, adotado nos séculos XII a XVI, caracterizado por arcos e abóbodas ogivais, isto é, a parte afilada de um cilindro.

Considerável área do castelo foi destruída durante a Guerra dos Trinta Anos, ocorrida de 1618 a 1648, conflagrada por países do Continente Europeu, ávidos por ampliar seus poderes. Também sofreu sérias avarias quando da invasão perpetrada em 1689, pelo rei da França, Luís XIV.

A princesa Elizabeth Charlotte von der Pfalz (1652-1722) havia casado por motivos políticos com o irmão do rei da França e, por isso, renunciou à herança do Palatinado. Sua Majestade francesa julgou-se no direito à magnífica propriedade, em razão da morte do irmão da princesa Elizabeth, que partiu para os páramos celestiais sem deixar descendente.

Como já disse em página anterior, o Castelo de Heidelberg é constituído de diversos edifícios. Entre eles, o Ruprechtsbau, em estilo gótico, edificado por Ruprecht III, nos anos de 1398 a 1410; o Ottheinrichsbau, erigido por Otto Heinrich, o principal do conjunto, composto de três andares e onde se encontra instalada uma farmácia do século XVIII, denominada Deutsches Apothekenmuseum; o Friedrichsbau, erguido por Friedrich IV nos anos de 1601 a 1607, cuja fachada é ornamentada com esculturas de dezesseis príncipes da dinastia Wittelsbach; e o Englischer, mandado construir por Friedrich V, para homenagear sua esposa, a princesa Elisabeth Stuart.

Descrever o conjunto de edifícios do chamado Castelo de Heidelberg é um raro prazer para este modesto escrevinhador. Tenho consciência de não tê-lo feito merecidamente. Rebuscar na memória tudo que vi por ocasião da inesquecível visita não é tarefa fácil para um setentão que já sente os anos correrem em busca dos oitenta janeiros, comemorativos ao seu genetlíaco.

Todavia, ainda me arrisco a falar da visita a certa dependência de um dos castelos, local onde se encontra imponente, o tonel de vinho elaborado com cento e oitenta troncos de carvalho, árvore nobre nativa da Europa. O recipiente mede oito metros de altura por sete de largura, capaz de armazenar 220.000 litros de vinho. Bem maior que seu similar, exposto no Museu da Cachaça, em Maranguape, no Ceará, destinado ao depósito da aguardente de cana Ypióca, “um orgulho cearense”, vendido, pelo que me consta, à fabricante de uísque John Walker.

Conta-se que o guardião do tonel, um alegre anão de nome Perkeo, excelente sommelier (especialista em vinhos) da corte, ingeria diariamente até oito litros de vinho, o chamado “néctar dos deuses”. Comentava-se que a milenar bebida era o único líquido que ele bebia. Quando adoeceu, o médico aconselhou-o a beber água. No dia seguinte à sugestão do esculápio da corte, Perkeo faleceu, aos oitenta anos de idade. Seria a confirmação de que a água enferruja e o álcool conserva?

Os jardins do castelo foram formados durante três anos, compostos de árvores e flores diversas. O verde das plantas ostenta soberano por toda a imensa área.

Antes de nossa despedida, ainda visitamos alguns logradouros da cidade, como a Rathaus e a Marktplatz, oportunidade em que conhecemos o prédio da antiga prefeitura, destruída na Guerra dos Nove Anos, também chamada de Guerra da Liga de Augsburgo ou Guerra da Grande Aliança (1688-1697). A obra danificada foi reconstruída entre 1701 e 1703. Também aproveitamos o ensejo para conhecer a igreja do Espírito Santo, situada na Markplatz.

No dia 9 de novembro de 2014, viajamos com destino a Wurzburg, situada a duzentos quilômetros de Heidelberg. As rodovias... Nem precisa comentar!

Até a próxima crônica, pessoal. Aguardo seu passeio por Würzburg!