Vem... Vamos

Chamou seu cachorro meio incrédulo da vida. Ao ajoelhar-se para acaricia-lo, sentiu o desconforto da cintura maior.

Queria outros ventos. Buscava uma vida sem rodeios e pessoas sem “nove horas”.

Estava farto de lirismo comedido, tanto quanto Bandeira.

E ao rasgar a foto em que usava gravata, talvez buscasse repetir Getúlio e entrar para a história ou, no fundo, no fundo mesmo, desejasse ser o Policarpo.

Contudo trocou de roupa.

Lustrou os sapatos. Abriu a geladeira, devorou meia fatia de melancia rapidamente.

Segurou com a mão direita o blusão no ombro esquerdo.

Uma última olhada no espelho.

- Outra pessoa, concluiu.

Nem percebeu a marcas de patas no jeans.

Fechou a porta deixando a luz da sala ligada.

Não voltaria para apagá-la.

Com pequenos assovios chamou Serelepe:

- Vem... Vamos...

Moacir Luís Araldi
Enviado por Moacir Luís Araldi em 07/03/2015
Código do texto: T5161043
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