Visita a Regensburg, Alemanha

NA MARGEM DO RIO DANÚBIO EU ESTIVE E GOSTEI

O título deste texto é um arremedo da frase do escritor Paulo Coelho, em livro de 1994. Na ocasião, o autor parafraseou o primeiro versículo do Salmo 137 da Bíblia, que diz: "Às margens dos rios da Babilônia nos assentamos e choramos". Paulo nem sequer avermelhou o rosto, ao dizer: "Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei". Quanto a mim, digo que às margens do rio Danúbio passei felizes momentos de uma bela viagem, nesta oportunidade compartilhada com o meu reduzido número de leitores.

No dia 5 de novembro de 2014, deixamos a cidade de Munique. Fomos conhecer Regensburg, situada às margens do rio Danúbio, cujo nome foi imortalizado na valsa Danúbio Azul (The Blue Danube Valse), composta por Johann Stauss II, cuja estreia ocorreu em Viena, em 1867.

O majestoso rio Danúbio, com suas águas azuis, já era conhecido da Matilde e deste escriba, quando de viagem anterior a Budapeste, capital da Hungria. Naquela ocasião, em inesquecível passeio fluvial, contemplamos a extraordinária paisagem urbana da capital húngara. Prédios e monumentos históricos desfilaram sob nosso embevecido olhar. A Estátua da Liberdade, o Parlamento, a Ópera, a Praça dos Heróis, o Palácio Real... Tudo nos fascinou a ponto de estimular o nosso desejo de revê-los proximamente. Mas, isto é outra coisa! Agora, falarei de Regensburg, cuja população, de maioria católica, é estimada em cento e trinta mil habitantes, felizes por ter a UNESCO, no ano de 2006, atribuído à cidade o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

O lugar foi dominado pelo império romano que, no ano 79 d.C, construiu ali um castelo para abrigar uma coorte, ou seja, um décimo de uma legião, unidade militar composta de infantaria e cavalaria. A história narra, ainda, que em 179 de nossa era, o imperador Marco Aurélio mandou edificar um acampamento de legionários,

denominando-o Castra Regina.

Nos séculos XI e XII, judeus e cristãos de Regensburg não se entendiam. Os católicos os obrigaram ao batismo, até que, um ano mais tarde, o imperador Henrique IV autorizou os que professavam a fé judaica a retornarem ao judaísmo. No século XV, os judeus foram acusados de roubarem as hóstias das igrejas católicas e de praticarem rituais com sacrifício de crianças cristãs. Considerados inimigos do cristianismo, resultaram deportados da cidade, em 1519.

Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, Oskar Schindler salvou a vida de mil e duzentos judeus (comunidade evidentemente formada depois da deportação ocorrida em 1519), residentes em Regensburg. Para tanto, modificou-lhes os nomes e os empregou em sua fábrica, estabelecida na cidade. O filme A Lista de Schindler, de 1993, do produtor norte-americano Steven Spielberg, trata da façanha heroica e humanitária desse generoso alemão.

Ficamos maravilhados com a beleza arquitetônica e histórica da localidade visitada, que dista apenas cento e vinte e cinco quilômetros de Munique. Conhecê-la foi um prazer inaudito, desconhecido, sobremaneira gratificante. Sabendo-a tratar-se da maior cidade medieval da Alemanha, fomos estimulados a conhecê-la mais acuradamente.

Passeamos sem preguiça por ruas estreitas, contemplando prédios antigos, bem conservados, datados dos séculos XIII e XIV, uma época tão distante que nem mesmo o Brasil era conhecido. Até aquele momento, nosso belo país não havia sido descoberto pelos intrépidos navegadores portugueses, significando dizer que a corrupção petista ainda estava latente.

As fachadas dos edifícios centenários de Regensburg são pintadas de cores vivas. Tudo nos pareceu uma maravilhosa viagem no tempo. No centro da cidade, ruínas da Porta Pretória, fortaleza edificada há dois mil anos, lembra o domínio romano na região. A Ponte de Pedra ou Steinere Brück, com trezentos e dez metros de extensão, foi erguida de 1135 a 1146. É a ponte mais antiga da Alemanha, ainda de pé, construída com esse mineral duro, de natureza rochosa.

Nas proximidades da Ponte de Pedra, a quase milenar “Cozinha da Linguiça” ou Wurstküche, ainda oferece seus produtos aos tradicionais e fiéis clientes. Durante cinco gerações, esse conceituado estabelecimento gastronômico é administrado pela mesma família. E no mesmo lugar, desde o século XII.

O prédio da antiga prefeitura, edificado no século XV, ostenta imponente torre. Localizado na Rathausplatz, é uma das principais atrações da cidade. A ele, associa-se a beleza da Catedral de São Pedro, do século XIV, cuja construção ocorreu entre 1250 e 1525. Quanto tempo! Duzentos e setenta e cinco anos! Mas, valeu a pena a demora, segundo testemunham seus belíssimos vitrais, embelezando o coro, espaço reservado aos cânticos litúrgicos.

Depois de exaustivas caminhadas, embora satisfeitos com o que apreciamos, fotografamos e gravamos em nossa retina impregnada de boas lembranças, efetuamos oportuno passeio em um trenzinho que nos fez complementar o indispensável conhecimento da bela e histórica cidade.

Ajustamos o GPS para viagem a Nuremberg. Seguimos estrada afora, ansiosos para conhecer o local onde Hitler protagonizara inflamados comícios, insuflando o povo a aderir às suas convicções nazistas. Sabíamos da importância histórica do lugar, palco do julgamento de sanguinários algozes de judeus, homossexuais e deficientes físicos, vítimas da sanha criminosa de mentes insanas.

Horas depois, transitando por excelente rodovia, estávamos perdidos. A culpa de nosso infortúnio não deve ser debitada à “Maricota”, epônimo que atribuímos ao falante equipamento. O erro talvez tenha resultado da digitação imprecisa do nome do lugar, confundindo o excelente guia eletrônico.

Cem quilômetros em direção contrária nos impediram de conhecer Nuremberg, o que muito lamentamos. Corrigido o rumo, seguimos para o próximo destino: Rotemburg, a famosa cidade em que o Natal

estende-se de janeiro a dezembro.

Obrigado pela atenção. Até a próxima crônica!