O SEPULTAMENTO AO LADO

(José Ribeiro de Oliveira)

Entrava o cortejo no campo santo. Compondo a solenidade, os familiares, amigos e convidados. O momento era de pranto e elevado sentimento. Avizinhando o velório, outras almas se despedem. Por estas, desconhecidas, nem um pequeno sentir. Da capela ao sepulcro, outras tumbas esperando, obstáculos tão somente, quer-se lá saber quem é. Mesmo igualmente inumado, aquele enterro ao lado, nem importa, é um coitado, ali também foi velado, nem sei se é homem ou mulher. A indiferença é tanta, ao de cujus desconhecido, como se nem foi nascido, sem parente ou aderente, só estes por ele sente, uma dor que é comum, mas não é por qualquer um que prostramos a sentir. Mas choro há por cada um, pois quão profunda é a perda, para quem chora isolado. Mundo desumanizado, egoísta e sem sentimentos. Chora só por um momento, enquanto por entre os muros, finge atrás de óculos escuros, a tristeza que não tem. E para o defunto ao lado, fica-se indiferente. Cerimoniosamente, o silêncio é sepulcral, mas para o enterro ao lado, somente um olhar banal. Assim é que nos velórios, chora-se de óculos escuros ou com o rosto coberto. Por isto eu estou certo, morre-se, só pra si mesmo, e pra poucos que estão bem perto.

Professor José Ribeiro de Oliveira
Enviado por Professor José Ribeiro de Oliveira em 17/01/2015
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