Ein bier, bitte! (Uma cerveja, por favor!) - Visita a Munique, Alemanha

Intitulo este texto com a expressão "Ein bier, bitte!" Traduzida do vernáculo alemão, essa sentença significa: Uma cerveja, por favor! Talvez este seja o pedido mais repetido pelo turista em viagem à Alemanha, principalmente ao visitar a famosa Cervejaria Hofbräuhaus, fundada em 1589, da qual falarei mais adiante.

Às 13h50 do dia 02 de novembro de 2014, viajamos de Londres a Munique, como denominamos em português essa joia do território alemão. Chegamos às 16h40, no voo LH 2475, da Lufthansa. Fomos conduzidos ao hotel NH München Deutscher Kaiser, situado na Amulfstrasse, 2, na Main Station.

No percurso entre o aeroporto e o hotel, avistamos o deslumbrante estádio de futebol do Bayern de Munique. A monumental obra de 171.000 metros quadrados tem capacidade para 66.000 espectadores e é conhecida pela denominação de Allianz-Arena. Esse majestoso palácio do esporte bretão foi palco dos jogos da Copa do Mundo de Futebol, realizada em 2006. Quando o vimos naquela ocasião, estava iluminado de azul. Dependendo do ensejo, as luzes mudam de tonalidade conforme as cores do detentor do “mando de campo”. Por exemplo: se FC Bayern, vermelha; se Munique 1860, azul. Não saberei dizer o que acontece em jogos com outras agremiações.

O Bayern é o clube mais bem sucedido da Alemanha. Seus adeptos somam cerca de 250 mil membros. Os jogos dessa tradicional esquadra, fundada em 1900, chegam a ser presenciados por mais de 60 mil pessoas, média alcançada no biênio 2009/2010.

Ainda no trajeto aeroporto/hotel, depois de avistarmos a Allianz-Arena, passamos pelo Museu BMW, também conhecido como Mundo BMW, situado próximo ao Olympiapark. O edifício-sede da empresa mede 290 metros de altura e tem a forma de quatro cilindros, juntos, aparentando uma flor com igual número de pétalas. Esta foi a impressão causada a este humilde escriba. A área do museu é de 5.000 metros quadrados.

A BMW é produtora de automóveis e motocicletas de fama internacional. Sua marca, uma anciã de noventa anos de idade, é considerada sinônimo de eficiência e respeitabilidade, virtudes que também já pertenceram a Petrobras, o orgulho brasileiro espoliado de sua riqueza pela ação deletéria de desonestos administradores indicados por políticos encastelados no governo petista.

Não tenho pretensão de discorrer exaustivamente sobre a Alemanha, cuja seleção nacional de futebol nos impôs a acachapante derrota por 7 gols a 1, na Copa do Mundo realizada no Brasil, em junho de 2014. Isso mesmo, nas nossas barbas! Não será por ressentimento que deixo de retratá-la mais amiúde e sim por não conhecê-la tanto quanto gostaria.

Antes da viagem narrada neste texto, as informações de que dispunha sobre esse rico país eram limitadas a poucos lugares, visitados quando de minha primeira viagem à Europa, nos idos de 1996. Até então, conhecia apenas as cidades de Colônia e Frankfurt, além das Cataratas do rio Reno e o Lago Titisse.

Nesta oportunidade, discorrerei sobre visitas às cidades de Munique, Füssen, Schwangau, Resensburg, Rotemburg, Heidelberg, Wurzburg e Frankfurt. Nada mais que isso. Tenho por norma falar apenas do que estou familiarizado. Sem invencionices.

Os principais fatos históricos de cada lugar serão narrados graças à transmissão oral de meus interlocutores e mediante pesquisas efetuadas em literatura confiável. Espero ter captado bem as informações recebidas para repassá-las fidedignamente ao leitor. Não gostaria de deturpá-las nem de torná-las indignas de crédito.

O cansaço desta vez também não nos intimidou. Acomodamos as bagagens no hotel e logo saímos para conhecer Munique, a capital da Baviera, o maior dos dezesseis estados alemãs. A cidade, provavelmente nascida no século XII, é de extraordinária beleza, destacando-se entre as mais lindas da Alemanha. Sua população é de 1,4 milhão de habitantes.

Em 1225, os príncipes de Wittelsbach, sucessores de Henrique, o Leão, escolheram Munique como residência oficial da corte. Posteriormente, construíram as segundas muralhas da cidade. A Porta do Isar ou a Isator, edificada no século XIV, é a única remanescente com a estrutura original.

De 1468 a 1494, foi erigida a igreja de Nossa Senhora Bendita, a Frauenkirche, consagrada à fé cristã quando da conclusão da obra. A catedral tem capacidade para abrigar 20 mil fiéis e é a maior igreja católica de Munique, localizada no centro da cidade, na Frauenplaz. Possui dois domos encimando duas torres de 99 metros de altura, edificadas em terracota, argila manufaturada e cozida no forno. Os domos somente foram erigidos em 1524. Domo significa acabamento exterior, elaborado de forma curva ou arredondada.

A igreja de Nossa Senhora foi seriamente danificada pelos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Restaurada, ali está, imponente, para satisfação de nossas aspirações turísticas. Visitamos o interior dessa relíquia arquitetônica, um templo bem cuidado, de largas dimensões, exibindo janelas com vitrais coloridos e lustres de significativa atração. Na nave lateral, encontra-se o suntuoso monumento funerário onde repousam os restos mortais do rei Luiz, falecido em 1622. Evidentemente, trasladados anos depois de sua morte.

Estivemos por algumas vezes passeando por animada e bem movimentada área de pedestre, a Marienplatz, principal praça da cidade. Trata-se do coração de Munique, onde, antigamente, eram realizadas as feiras de cereais e as exibições de espetáculos públicos. Por lá, pulsam artérias importantes de seu comércio ativo e próspero.

A Marienplatz também é chamada de a “sala de visitas de Munique”. No centro da praça, encontra-se localizada a Mariensäule ou Coluna de Maria, erigida em 1638, por ordem do príncipe Maximiliano I, em agradecimento à Virgem por não ter permitido a destruição da cidade, durante a Guerra dos Trinta Anos, disputada com os suecos.

Nessa famosa praça, está edificado o prédio neogótico da prefeitura, construído no século XIX, exibindo a torre de 80 metros de altura, com a figura heráldica do Menino de Munique ou Münchner Kindl, símbolo da cidade. Heráldica é a arte ou ciência que compreende o estudo da origem, evolução e significado dos brasões da realeza. Em certa viagem a Portugal, no Salão dos Brasões, na cidade de Sintra, contemplei o brasão da família Braga, à qual pertenço.

Na Marienplatz estão localizados prédios históricos, inclusive os da antiga e da nova prefeitura. Aproveitamos o ensejo das visitas para registrar nossas passagens por tão significativos lugares.

Conhecemos o carrilhão situado na torre do Novo Palácio Municipal, com quarenta e três sinos soando, invariavelmente, às onze horas. As esculturas se mostram nas janelas e representam o torneio medieval ocorrido em 1568, para celebrar o enlace matrimonial de Guilherme V com Renata Lothringen.

Nossas andanças foram bem proveitosas. Adentramos variados locais para nos certificar da história alemã, rica em acontecimentos memoráveis, embora alguns de triste lembrança. Por ocasião de uma dessas caminhadas, visitamos a igreja de São Miguel, do século XVI, reconstruída depois da destruição ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial. Também estivemos na igreja de São Pedro, cuja construção foi iniciada por Henrique, o Leão, em 1158. Ampliada em 1181 e reconstruída em estilo gótico, em 1327, após um grande incêndio, também foi severamente danificada durante a Segunda Grande Guerra. Hoje, encontra-se restaurada, inclusive com a construção adicional do Altar Mor, até então inexistente.

Num lampejo de coragem ou de injustificada imprudência, resolvi subir os 306 degraus que levam ao cume da torre da igreja de São Pedro. Desse total, consegui ir até ao sétimo andar. Subi 127 pontos de apoio para locomoção ascendente, excessivamente fatigado, acompanhado de minha mulher que a cada instante insistia comigo para desistir da empreitada, pois a angina pectoris que me acomete em situações de esforço ameaçava-me a vida. Minha esposa, por ser médica, sabia do iminente perigo, insistentemente desafiado por mim, um turista deveras impetuoso. Vencido pelas circunstâncias, retornamos sem contemplar do alto a cidade de Munique e os montes nevados dos Alpes distantes.

Em certa noite de grande expectativa, visitamos a Hofbräuhaus, famosa cervejaria fundada em 1589, a mais popular e principal atração turística de Munique. E a maior do mundo. Ali, ocupamos parte de extensa mesa, na qual pessoas de nacionalidades diferentes sentam-se para tomar uma cervejinha, acompanhada da não menos famosa salsicha branca e do joelho de porco, tradicionais tira-gostos servidos a centenas de fregueses, animados por diversas orquestras.

Na Hofbräuhaus, a tristeza não tem vez, cedendo lugar à alegria contagiante de uma animada Babel. Os idiomas misturam-se aos gestos e trejeitos, exprimindo o que as vozes confusas não revelam.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as SS de Hitler fizeram uma escaramuça na “velha cervejaria”, demonstrando sua peculiar ferocidade ao prender pessoas vinculadas ao Partido Social-democrata.

Naquela noite, sentado à mesma mesa (coletiva) ocupada por nós, um rapaz se ofereceu para nos fotografar. Ele é brasileiro, residente nos Estados Unidos, atualmente a serviço de sua empresa na cidade de Munique. Pensei: “doravante, em viagem ao exterior, ficarei atento ao que converso, embora seja em português. Poderia me dar mal ao falar de alguém ou de alguma coisa, julgando-me protegido pela ignorância linguística de algum ouvinte. Preciso entender que os ouvidos das pessoas estão sempre atentos e a Babel de hoje já não é mais a mesma”.

Antes da despedida de Munique, fomos conhecer o mercado municipal ao ar livre, denominado Viktualienmarkt. Datado de 1807, também é conhecido por Mercado das Vitualhas (gêneros alimentícios). Trata-se do maior mercado de produtos agropecuários e piscatórios da cidade, além da venda de pães, vinhos e de uma variedade incontável de outros gêneros gastronômicos. Entre as bancas do mercado, existem seis fontes com estátuas representativas de cantores e astros populares de Munique.

Dotada de cafés e restaurantes, a praça do mercado serve de ponto de encontro para um bom e descontraído papo, regado a uma boa cerveja ou uma bier, se o leitor desejar designar em alemão a milenar bebida que nós, brasileiros, chamamos de “loura suada”. Na oportunidade, degustamos a famosa salsicha branca. Uma delícia!

Depois, optamos por almoçar em um restaurante japonês das proximidades. O estabelecimento é moderno, com vitrines expositoras que facilitam os pedidos do grande número de clientes. Atendidos, conduzimos os pratos para um balcão alto, onde saciamos a fome, em pé. Não são oferecidas cadeiras para tal finalidade.

Esse restaurante lembra-me outro, no aeroporto de Londres, no qual o pedido é formulado à vista de amostras da comida em porções individuais, circulando aos olhos do cliente, sentado e pronto para ser servido. Com prestimosidade e rapidez!

Até a próxima crônica, quando escreverei sobre visitas a belos lugares da Alemanha.