HISTÓRIA DE UM GRANDE AMOR
No início éramos dois amigos inseparáveis. Na escola onde estudávamos a maioria dos nossos outros amigos pensavam que éramos irmãos, tal a familiaridade e gostos iguais.
Eu brincava com os outros meninos na hora do recreio e claro, ela com as meninas, porém nos vigiávamos. Ficávamos atentos para o que acontecia ao redor um do outro.
Os anos letivos transcorreram sem que percebêssemos. De repente estávamos cursando a mesma faculdade de educação física. Já não mais conseguíamos ficar um distante do outro.
Mas naquele tempo não era como hoje que os jovens se conhecem pela manhã numa praia ou numa piscina; à tarde saem juntos para tomar um chá ou comer uma pizza e a noite estão numa suíte de motel.
Por isso, durante o curso primário, secundário e a universidade jamais trocamos um selinho sequer. Podíamos até estar de mãos dadas em alguns momentos, mas os beijos eram nas faces, tão ingênuos quanto os nossos corações.
Entretanto, na medida em que íamos ultrapassando a barreira da adolescência, sentíamos que nós nos amávamos e precisávamos consumar esse amor, posto que já não era mais possível conciliar a idéia de uma eventual separação.
E isso seria inevitável. Até porque concluído a universidade tomaríamos rumos diferentes em busca dos nossos espaços no mercado comercial e profissional. Com toda certeza nossas vidas estariam divididas cada um para seu canto.
Num sábado à tarde, após um almoço de confraternização com os colegas de turma, voltamos conversando animadamente sobre os nossos planos para o ano seguinte que estava próximo de chegar. Então a meiga e bela Eunice falou quase murmurando e com lágrimas nos olhos:
- Uma pena. Eu gostaria de estudar mais um pouco e que tu também estivesse estudando comigo. Não entendo porque depois de tantos anos temos que ir cada um para um canto diferente. Eu gostaria mesmo é de ficar contigo.
O meu coração quase explodiu e saiu fora do peito. Não sabia se chorava, gritava ou se a abraçava e a beijava. Com voz embargada, mas consciente e firme respondi.
- Nesse caso não precisamos nos separar mais. Ficamos noivos hoje, preparamos tudo e o mais breve possível nos casamos e vamos transformar essa nossa amizade numa grande história de amor. Afinal, sempre foi isso que queríamos sem saber.
O temor da separação nos deu coragem para nos declararmos tempestivamente. Os nossos filhos hoje com trinta e cinco, trinta e dois e trinta anos são as nossas testemunhas vivas deste grande amor.
Nota do autor:
Texto baseado na vida real de um casal amigo que comemorou bodas de ouro (cinquenta anos) de casados, numa união gloriosa cheia de luz. A esposa já partiu para a pátria espiritual e o marido com mais de noventa anos segue cumprindo a sua missão aqui na terra.