Chá das Cinco (Visita a Londres)
Há pouco mais de um mês, exatamente no dia 14 de novembro de 2014, regressei de viagem a Londres e a diversas cidades da Alemanha, das quais falarei em momento oportuno desta narrativa. Hoje, comento os agradáveis passeios pela capital inglesa.
Costumo narrar minhas viagens internacionais, publicando-as em livros posteriormente oferecidos aos amigos, em agradecimento à benevolência dispensada por eles com a atenciosa leitura de meus textos. Essas pobres criaturas são submetidas à tortura literária que lhes imponho. Coitados!
Deveria ter escrito este texto tão logo regressei do passeio, contudo, a preguiça e o cansaço decorrente da idade que caminha a passos largos para o ocaso, postergaram esse intento, classificado por mim como ação compulsiva. Gosto de escrever. Sinto necessidade de me comunicar através de linhas mal traçadas ou não, rabiscadas para minha satisfação pessoal.
Viajei acompanhado de meu irmão caçula, de sua consorte e de minha adorável esposa. Partimos de diferentes aeroportos brasileiros, inicialmente com destino ao aeródromo de Guarulhos, em São Paulo. O mano saiu do Rio de Janeiro onde reside atualmente por força do exercício profissional, dividindo esse endereço com Recife, lugar de seu domicílio efetivo, compartilhado com a mulher com quem mistura as escovas de dente há mais de quarenta anos. Minha senhora e eu partimos de Brasília, capital deste Brasil impuro, assolado pela corrupção petista, doença contagiante que exige grandes esforços para curá-la. O melhor remédio seria banir esse partido malsão da vida política nacional, pois o vírus de coloração vermelha que o acomete já se propaga por todos os poderes da República.
No dia 28 de outubro de 2014, partimos de São Paulo às 23h45, em avião da TAM, no voo JJ 8084, com destino a Londres. Voamos ininterruptamente por quase doze horas, boa parte sobre o ingente Oceano Atlântico. Aportamos na capital londrina no início da tarde do dia 29, precisamente às 13h45, hora local. No Brasil, os relógios marcavam 9h45. O tempo estava chuvoso e a temperatura era de 12 graus célsius.
Desembaraçadas as bagagens, fomos recepcionados por pessoa encarregada de nos conduzir ao hotel Holiday Inn Kensington Forum, situado na Rua Cromwell Road, 97, em Kensington, elegante bairro com lojas, bares, restaurantes, centros de lazer e cultura, inclusive meios de locomoção abundante, tais como táxis, ônibus e metrô.
Aproveitamos o restante da tarde e algumas horas da noite para início das visitas a famosa citi. Durante nossa estada em solo londrino, fomos salvos por meu irmão através de seus conhecimentos da língua inglesa, capazes de nos livrar das dificuldades de comunicação.
Embora não pretenda me exibir, confesso que sou alfabetizado em nível superior à maioria de meus compatriotas, analfabetos funcionais graças ao medíocre ensino obtido em nossas pobres escolas públicas. Igualmente a eles, não falo inglês. Não fora a corrupção desenfreada que sem dó nem piedade usurpa as verbas destinadas à educação de nossas crianças, o cenário seria outro. Elas e eu talvez falássemos a língua de Shakespeare.
Em nossas incansáveis caminhadas, batemos pernas por muitos lugares, entre eles pelo bairro boêmio do Soho, com seus bares e restaurantes animados. Em certo pub apinhado de gente, compartilhamos bons momentos degustando uma ice-cold-beer, bem gostosa. Afinal, ninguém é de ferro! Fotografamos o ensejo para relembrá-lo quando a saudade apertar.
Fizemos alguns passeios urbanos utilizando os famosos ônibus com poltronas na parte superior sem teto, aberta para permitir ampla visão ao turista. Esses veículos são conhecidos por hop-on-hop-off e vão a qualquer parte da cidade, com o serviço de som explicando a origem e o significado histórico de cada edifício ou monumento visto no trajeto. Os passageiros ouvem as explanações em qualquer dos idiomas oferecidos, inclusive o português, mediante uso de fone de ouvido. Em determinada parte da cidade, vimos a bandeira nacional brasileira tremulando da sacada de nossa embaixada. Perguntei-me introspectivamente: Por onde andará nosso embaixador? Temi que Sua Excelência estivesse gozando felizes momentos em companhia da família, excursionando por cidades europeias, à custa de nosso pobre dinheirinho.
Pelas centenárias ruas de Londres, conhecemos a cidade aos poucos. Margeamos o rio Tamisa, o mais nobre da Europa, com duzentos e quarenta quilômetros navegáveis; o Hyde Park, considerado o pulmão verde londrino, medindo mais de duzentos hectares bem arborizados, onde existe um cemitério de animais com a sepultura de um cachorro contendo a seguinte inscrição: “Tive três maridos, mas somente tu me foste fiel”. Filmamos alguns esquilos saltitando pelos gramados e árvores do Hyde Park, salpicado das folhagens secas caídas no final da estação outonal, cedendo lugar ao inverno que se avizinhava.
Vimos mais: o Palácio de Kensington, atual residência da duquesa Kate Middletone e antiga morada do principie Charles e da princesa de Gales, Diana, falecida mãe do príncipe William, marido de Kate. Nesse histórico palácio, nasceu e viveu a rainha Vitória, proclamada soberana da Inglaterra aos dezoito anos de idade, em 1837.
Visitamos a famosa loja Harrod´s, com mais de cento e cinquenta anos de existência, local de compras da família real inglesa. Nas vezes anteriores que estivemos em Londres, a Matilde e eu comparecemos a essa fabulosa loja de artigos de luxo, mas não a conhecemos como desta feita. Inúmeros departamentos, de variadas ofertas bem arranjadas em magníficas exposições, chamam a atenção dos clientes. A nossa foi despertada para vitrinas de peças femininas, joias e bens de alto valor, como um relógio Rolex oferecido por 24.500 libras, correspondendo a R$ 103.000,00, e três peças de um conjunto de cristal, por 9.999 libras, ou seja, R$ 42.000,00. Em certo departamento de alimentação, constatamos o quilo da bisteca de carneiro por 51 libras, e de cem gramas de camarão por 8 libras, o que significaria, transformados em reais, nossa pobre e desvalorizada moeda, nos seguintes valores: R$ 215,00 o quilo da bisteca de carneiro e R$ 35,00 os 100 gramas ou R$ 350,00 o quilo de camarão. Nada que a família real e alguns brasileiros mais endinheirados, talvez políticos aquinhoados com elevadas propinas da Petrobras, não pudessem comprá-los.
Passeamos pela Oxford Street e pela Regent Street, entre outros logradouros de elevada importância turística. Conhecemos o edifício do Parlamento, um dos mais belos conjuntos arquitetônicos da cidade e que também abriga a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns. Contemplamos o Big Ben, conhecido como a “voz de Londres”, ouvindo-lhe as sonoras e precisas badaladas indicativas das horas que anuncia desde 1858, ecoando seu gigantesco sino de 3,5 toneladas.
Transitamos a bordo dos ônibus vermelhos de dois andares, denominados red doublé-deck buses, e dos tradicionais táxis, agora pintados em cores variadas. Por algumas vezes, passamos em frente a St Paul´s Catedral, datada de 1673, sem, no entanto, adentrá-la para conhecer-lhe o interior. Uma negligência imperdoável, considerando ser ela parte do roteiro turístico londrino e um dos principais cartões postais da cidade.
Não chegamos a conhecer em sua plenitude a Abadia de Westminster, cuja construção foi iniciada no século X. A colossal abóbada da catedral foi iniciada em 1503 e concluída em 1512. Suas elevadas torres datam de 1745. Consagrada a fé cristã em 1065, foi palco da coroação do rei Guilherme, o Conquistador, e de todos os seus sucessores, a partir de 1308. Quando nos dispusemos a visitá-la, o expediente estava encerrado para o público. Ficamos felizes por ter contemplado pelo menos a nave principal, de rara beleza. Minha esposa e eu, que a visitamos em duas outras ocasiões, em 1996 e 2007, conhecemos, naquela oportunidade, a parte subterrânea onde se encontram os túmulos de reis e rainhas, personagens de uma época distante.
Em nenhum momento nos acovardamos diante do cansaço que nos oprimia. A idade avançada não impediu de irmos à luta. As dores lombares e articulares também não obstaculizaram vigorosos passeios por famosos logradouros, como a Trafalgar Square e o Piccadilly Circus; o primeiro, ladeado de fontes, exibe monumento ao Almirante Nelson, herói da batalha de Trafalgar, ocorrida em 1805, quando derrotou as tropas de Napoleão Bonaparte; o segundo é uma praça de fama internacional, símbolo londrino, situada no cruzamento da Regent Street, a rua da moda. Nessas imediações, está instalado o Café Royal, lugar de encontro de intelectuais e artistas. Apesar de minha insignificância intelectual, adentrei o ambiente para degustar um bom vinho, acompanhado de meu irmão, sua esposa e de minha consorte, companheira inseparável de inesquecíveis jornadas turísticas.
Em um dos quatro dias de visitação, assistimos à troca da Guarda Real, realizada no pátio e em frente ao Palácio de Buckingham, residência oficial da família real desde 1837. Trata-se de cerimônia marcante para o turista, um desfile garboso de ordem e disciplina, presenciado por milhares de pessoas aglomeradas para verem a parada dos elegantes soldados de Sua Majestade.
O Palácio de Buckingham tem cerca de mil portas e janelas, abrigando trinta mil pessoas em suas diversas atividades administrativas e de governo. A bandeira real é hasteada para anunciar a presença da rainha em seu interior.
Visitamos a Torre de Londres ou London Bridge, situada às margens do rio Tamisa, construída entre 1176 e 1209, pelos conquistadores normandos. Quando da comemoração dos novecentos anos de existência da lendária edificação, o Duque de Edimburgo escreveu que ela já fora fortaleza, palácio, casa das joias da coroa, tesouro nacional, arsenal, casa da moeda, prisão, observatório e parque zoológico. Digo eu: Foi e será para todo o sempre uma atração turística de observação memorável.
Andamos por quase todos os cômodos dos edifícios que compõem a London Bridge. Conhecemos suas principais dependências, inclusive calabouços, câmaras de tortura, armas antigas, móveis épicos e instalações diversas que serviram aos intentos descritos pelo Duque de Edimburgo. Somente deixamos de contemplar as Joias da Coroa, em virtude do grande número de turistas. Imensa multidão lotava os pátios e os locais de visitação. Desistimos, vencidos pelo cansaço.
Às margens do rio Tamisa encontra-se instalada a roda gigante denominada London Eye (Olhos de Londres), também conhecida como Millennium Wheel (Roda do Milênio). Inaugurada em 1999, mede 135 metros de altura e é a terceira maior do mundo, perdendo para a Estrela de Nanchang, na China, de 160 metros, e para a primeira mais alta do planeta, com 167 metros, erigida em Las Vegas, nos Estados Unidos, sob a denominação de High Roller.
Em 2007, minha esposa e eu não reunimos coragem suficiente para um passeio inesquecível na London Eye, o que coube à netinha Natália e a seu pai Antônio Augusto fazê-lo para causar inveja aos velhos avós, à sua mãe Cristina e à tia Mércia. Desta feita, superei o medo e, juntamente com meu irmão Lairton, sua esposa Cristina e Matilde, minha mulher, passamos belos momentos vendo a cidade de Londres do alto, confortavelmente e sem nenhum perigo. Da imensa altitude, avistamos a multidão de turistas em fila indiana, aguardando a vez de ver o rio Tamisa serpenteando o solo da Grã-Bretanha, além do Shard London Bridge, também conhecido como Shard of Glass e The Shard, arranha-céu em forma de pirâmide, inaugurado em 5 de julho de 2012. Esse edifício é o mais alto da Europa, medindo 310 metros de altura.
Outro passeio de rara felicidade foi ao Covent Garden, um mercado de proporções generosas, abrigando inúmeras lojas de variadas atividades econômicas, casas de eventos festivos, restaurantes, cafés, lojas de frutas, flores, especiarias e de um sem-número de objetos úteis para uso próprio e para presentear amigos. Adquirimos alguns artigos objetivando nos desfazer das libras esterlinas que já escasseavam em nossas bolsas. Ademais, estávamos prestes a deixar Londres para empreender viagem à Alemanha. Lá, gastaríamos os parcos euros penosamente amealhados no Brasil, convertidos do Real, nossa pobre e desvalorizada divisa monetária.
A viagem foi curta. Desfrutamos Londres por apenas quatro breves dias. Por isso, deixamos de conhecer plenamente a Abadia de Westminster, pelos motivos já expostos, e o Castelo de Windsor, o maior deles ainda ocupado no mundo, existente há mais de 900 anos, e que atualmente serve de residência de verão à família real.
Em virtude da colossal fila de turistas com a mesma intenção da nossa, não conhecemos o Museu de Cera de Madame Tussaud, contendo mais de 200 réplicas perfeitas de grandes personagens mundiais, em virtude da descomunal fila de turistas com a mesma intenção da nossa. A Matilde e eu ali estivemos em duas outras oportunidades: 1996 e 2007. Na oportunidade, aproveitamos o ensejo e nos exibimos em fotografias ao lado de figuras magistralmente esculpidas em cera, como as da Rainha Elisabeth, Diana, Bush, Elvis Presley, Beatles, Airton Sena e de famosos astros do cinema. E também de Fidel Castro, aquele déspota queridinho dos políticos de facções da esquerda brasileira que, hoje, assaltam os cofres públicos do Brasil, atualmente à beira da falência. Moral e financeira.
Em oportunidades futuras, voltarei a Londres para conhecê-la melhor e mais intensamente. Agora, despeço-me saudoso, esperando contar com sua atenciosa leitura quando da transmissão das novas crônicas sobre os bons dias passados na Alemanha. Até lá!