A FUGA DE APOLÔNIO
(Samuel da Mata)
Não gosto de criar bichos, eles normalmente privam a nossa liberdade de movimentos. Em se tratando de pássaros, muito menos, o canto da escravidão é um clamor ao censo de direito. Todavia, fui convocado a dar suporte a alguém que estaria em viagem. Era uma linda calopsita amarela e cinza a qual chamavam de Apolônio. Recebi junto uma bula de recomendações: banana maça, ração, água mineral. banho de spray e passeios pela casa de manhã e à tardinha.
Apolônio era um encanto, joia que nos conquista na primeira olhada. Espirituoso, cantador e todo cheio de gracinhas. Quando solto levantava as asas e rodopiava como um galo de rinha. Mas, voar não podia, tinha suas asas cuidadosamente aparadas pela sua dona. Mas também, não tinha porque sair, tinha mais mimo em casa do que qualquer estrela de Hollywood.
A vida não é bem assim, por mais mimos que se tenha, há sempre em todos nós um sonho de liberdade ao qual não se troca por dinheiro algum. Apolônio era inteligente, simulava bem que as suas asas cortadas não lhe permitiriam dar senão pequenos pulos. Quando por fim viu a janela aberta, deu um pequeno piado, como que de despedida, e alçou um voo para a liberdade com direito a uma excepcional manobra para desviar-se das mãos que tentavam contê-lo. Voou alto, bem acima do telhado e tomou rumo ao desconhecido sem qualquer olhada atrás. Evidente, que isto custará lágrimas inconsoláveis da sua dona e um constrangimento inimaginável a seus curadores de ocasião.
As vezes fico pensando como Apolônio irá sobreviver, uma ave inocente em um mundo tão hostil. Ele mesmo não tem a mínima ideia, mas por certo sobreviverá, ainda que nas mãos de outro tratador que o apreenda. A vida é assim, os jovens estão sempre prontos a trocar um mundo de cuidados pelas expectativas de novas aventuras. Algumas totalmente insanas, mas todas elas trazem em seus bojos a ideia de que não há riqueza no mundo que nos valha a privação da liberdade da escolha de nossos próprios desígnios.
(Samuel da Mata)
Não gosto de criar bichos, eles normalmente privam a nossa liberdade de movimentos. Em se tratando de pássaros, muito menos, o canto da escravidão é um clamor ao censo de direito. Todavia, fui convocado a dar suporte a alguém que estaria em viagem. Era uma linda calopsita amarela e cinza a qual chamavam de Apolônio. Recebi junto uma bula de recomendações: banana maça, ração, água mineral. banho de spray e passeios pela casa de manhã e à tardinha.
Apolônio era um encanto, joia que nos conquista na primeira olhada. Espirituoso, cantador e todo cheio de gracinhas. Quando solto levantava as asas e rodopiava como um galo de rinha. Mas, voar não podia, tinha suas asas cuidadosamente aparadas pela sua dona. Mas também, não tinha porque sair, tinha mais mimo em casa do que qualquer estrela de Hollywood.
A vida não é bem assim, por mais mimos que se tenha, há sempre em todos nós um sonho de liberdade ao qual não se troca por dinheiro algum. Apolônio era inteligente, simulava bem que as suas asas cortadas não lhe permitiriam dar senão pequenos pulos. Quando por fim viu a janela aberta, deu um pequeno piado, como que de despedida, e alçou um voo para a liberdade com direito a uma excepcional manobra para desviar-se das mãos que tentavam contê-lo. Voou alto, bem acima do telhado e tomou rumo ao desconhecido sem qualquer olhada atrás. Evidente, que isto custará lágrimas inconsoláveis da sua dona e um constrangimento inimaginável a seus curadores de ocasião.
As vezes fico pensando como Apolônio irá sobreviver, uma ave inocente em um mundo tão hostil. Ele mesmo não tem a mínima ideia, mas por certo sobreviverá, ainda que nas mãos de outro tratador que o apreenda. A vida é assim, os jovens estão sempre prontos a trocar um mundo de cuidados pelas expectativas de novas aventuras. Algumas totalmente insanas, mas todas elas trazem em seus bojos a ideia de que não há riqueza no mundo que nos valha a privação da liberdade da escolha de nossos próprios desígnios.