58- CRONICANDO: Myskmow: uma voz.
Myskmow: uma voz.
Ao navergar pela ondas da rede, li uma notícia que muito me entristeceu: "Foi encontrado morto, hoje à noite, José Silva dos Santos,79, morador da comunidade Salinas Ribamar, periferia de Cabedelo. A perícia constatou que a morte foi de causas naturais, enquanto dormia.
Como assim você não conhecia José Silva dos Santos? Certo, pelo nome de nascimento talvez nem todos o conheçam. Mas você já ouviu falar de Myskmow! Não? Mas onde você estava na década de 1990?
Deixa eu te situar. Nos anos 90 caiu o muro de Berlim, o Bush pai começava uma guerra, Collor bloqueava o dinheiro do povo e nas rádios tocavam Myskmow.
Descobri bem depois que o gênero era o Brega, afinal de conta eu devia ter uns 4 anos, no máximo. Mas eram músicas que falavam de amor, paixão, traição e mais amor. Praticamente cresci ouvindo ele cantar nas paradas de sucesso.
Mas não era apenas eu que “curtia” o Myskmow. Major, um vizinho nosso (alta patente sem nunca ter pisado os pés num quartel, nem para se alistar) o ouvia tomando sua meota e chorando amores passados.
Até onde ela fazia sucesso na época, eu não sabia. Mas, se eu o quisesse ouvir, bastava subir no tamborete ao lado da janela gradeada e escutá-lo cantar.
Um dia, percebi algo diferente. A voz não vinha de rádio algum. Era ao vivo. Sim, era o próprio Myskmow cantando. Era ele. Então, estico o pescoço e o vejo cantando na calçado do Major. Bêbado, caído, mas cantando.
Então, percebi que durante esse tempo todo nunca houvera um rádio tocando ou parada de sucesso alguma. Era apenas o Myskmow, em nossas calçadas. Ali, bem pertinho da gente.
Uma pena que você partiu dormindo, se não, ouviriamos a sua voz, entrando por nossas janelas durante os últimos suspiros: “ Verônica, me sinto tão só...”
Vá em paz Myskmow.