No cume

A garota de cabelos castanhos e olhos mel observa o cume da montanha sentindo sua mão suar. Levanta o rosto e sente pequenas falhas geladas descerem sobre ele. Ela toma parte da substância nas mãos brancas como a neve que cobre o verde ao seu redor e nota: era úmido e sedoso, como se fosse mais que uma gota d'água. E então a menina se senta na grama, os olhos observando o que lhe fora de direito há tanto tempo: paz. Não queria sorrir, não queria gritar ou maldizer os deuses pelo punho que oprimia seu peito. Só queria se deitar ali e juntar-se ao frívolo que, agora, lhe era essencial. Misturar-se ao manto de cores vibrantes ao seu redor continuou sendo o único desejo da forma branca deitada na neve.

Eu não sei, caro leitor, por quanto tempo a garota se deu o direito de permanecer em silêncio, quanto tempo continuou deitada naquela terra branca e congelada com um simples casaco de lã da mesma cor. Ela poderia ter desaparecido ali, camuflada com os materiais secos ao seu redor, mas eu sei que em algum momento ela se permitiu levantar. O céu estava negro e as estrelas o cobriam como se alguém o pintasse no ângulo de seu olhar. Ela absorveu a atmosfera congelada desejando se unir ao tempo e, finalmente, caminhou afundando na neve..

Bê Vieira
Enviado por Bê Vieira em 20/10/2014
Código do texto: T5005844
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