Os prejuízos da incerteza política

Não sei por que não aprendemos com o sofrimento, se é que o muito padecer concita o homem a meditar, rever os erros do passado, corrigir os rumos do presente, mudar de vida, vislumbrar um futuro livre da incoerência, dos desatinos e dos males causados a si ou a terceiros.

Devíamos aprender com o sofrimento nosso ou alheio. Exemplo a nos espelhar é o da Argentina, onde a irresponsabilidade política, a ideologia comunista, a corrupção, a incompetência administrativa e os desacertos com a comunidade financeira internacional transformaram um país outrora rico, em nação endividada, humilhada e envergonhada de seus governantes.

Aqui no Brasil, dispomos de todos esses ingredientes para nos tornar iguais. O caldeirão político já está posto ao fogo, fervendo descontroladamente. A cada dia, fortes poções temperadas de insensibilidade, incompreensão, desatino, conchavos espúrios, arrogância e desonestidade aguardam a vez de ser colocadas na fervura. Esperamos que a temperatura não suba a níveis insuportáveis, pois, se a panela explodir, aí de nós!

Fatos recentes, escabrosos, ocorridos na administração pública federal e igualmente acontecidos Brasil afora, se não houver mudança radical que os combata urgentemente, nos fazem crer que o caldeirão político está mesmo próximo a explodir. Os escândalos na Petrobras, nos Correios e em variadas entidades governamentais multiplicam-se exponencialmente. A bandidagem urbana, comandada por criminosos comuns, associou-se aos delinquentes políticos, protegidos por imunidade descabida e pela tolerância e leniência da Justiça.

O Brasil precisa mudar. Urgentemente! As reformas estruturais, as leis e os projetos necessários ao bem estar da sociedade e ao desenvolvimento do país clamam por solução. A reforma política é uma necessidade premente.

A administração pública nunca é exercida com tranquilidade. A cada dois anos, o movimento eleitoral contamina a sociedade, roubando-lhe o precioso tempo a ser utilizado na gerência da coisa pública, na instituição de leis, códigos e regulamentos que auxiliem desenvolvimento nacional. Nesse período eleitoral, os interesses do Estado ficam relegados a oportunidades futuras, quando suas excelências se dispuserem a trabalhar.

Os políticos utilizam o tempo “remunerado a peso de ouro” pelos cofres públicos, para tratar da própria eleição. Presidente, governador, prefeito, senador, deputado e vereador são cargos disputados em pouco espaço de meses. A cada biênio, temos eleição majoritária ou proporcional. Se não estiver concorrendo a um cargo eletivo, o político, todo ele, estará envolvido na campanha de um correligionário.

Hoje em dia, com o aparelhamento do Estado pelo PT, contratando sem concurso mais de duas dezenas de milhares de cabos eleitorais para ajudá-lo na divulgação fantasiosa de seus feitos políticos, em tempo integral, a situação ficou escandalosamente insuportável. Vergonhosa e injusta.

Os gastos financeiros são gigantescos. Os financiamentos de campanha por empresários ávidos por contratos ilegítimos de obras futuras são recuperados com a elevação imoral dos valores orçados. Um ônus pago pelo contribuinte que não autorizou a emissão da vergonhosa fatura. A máquina pública é utilizada injustamente a favor de privilegiados candidatos, “mais reais que o rei”, ou seja, o povo.

Nesse cenário eleitoral, a especulação financeira avilta o patrimônio nacional ao reduzir o valor dos títulos do Tesouro, provoca aumento das taxas de juros da dívida pública em virtude do grau de risco com que o país é avaliado e ainda provoca a diminuição dos investimentos estrangeiros, que recuam temendo o caos previsto por especialistas. É o que acontece atualmente. Os índices da Bolsa de Valores despencam, o dólar sobe a alturas inimagináveis e a estagnação econômica penaliza o trabalhador, em face da redução do nível de emprego.

A reforma política torna-se urgente. Deveria, em seu bojo, instituir a fidelidade partidária, o voto distrital, rever os financiamentos das campanhas eleitorais e condicionar a existência dos partidos políticos à manutenção de determinado número de parlamentares no Congresso Nacional. Seria bom contemplar outras mudanças, como, por exemplo, determinar que o próximo candidato a presidente da República e a governador de estado seja o atual vice desses mandatários. Assim seriam reduzidas as especulações e o povo decidiria mais facilmente ao avaliar, com antecedência, os méritos do candidato a comandar nossos destinos nos próximos cinco anos, prazo esse a vigorar com o fim da reeleição, hoje em voga.

Certamente, os efeitos dessas providências seriam salutares.