Deverei roubar, acobertado pela impunidade ? (*)
Deverei roubar, acobertado pela impunidade? Sim ou não? Não... Sim... Talvez... As respostas formuladas por mim lembram conhecido seriado de televisão, exibido de 1980 a 1984, em que o personagem Zeca Diabo enchia-se de dúvidas ao responder perguntas que excediam o seu entendimento, exorbitavam da sua capacidade de raciocínio ou ultrapassavam os limites da moral, do bom senso, da honestidade, do pudor, da vergonha propriamente dita.
Falar em Zeca Diabo, me traz à lembrança outro personagem da trama, o famoso Odorico Paraguaçu, representando o político profissional, inescrupuloso, aproveitador e corrupto.
Deverei roubar, acobertado pela impunidade? Roubar é crime, passível de punição. As leis que regem a sociedade não admitem desvios de conduta, sejam o roubo, o peculato, o falso testemunho ou qualquer delito que agrida a moral e os bons costumes.
Não devemos roubar. Nem eu, você, o presidente da República, o governador de estado, o político, qualquer homem público ou o cidadão comum. Ninguém. A lei é severa e igual para todos (?).
Os noticiários do rádio, televisão, jornais, revistas e conversas de ruas e de botequins, com frequência dão conta de desvios de verbas, má aplicação de recursos públicos, enriquecimento rápido e injustificável de políticos e de seus correligionários.
É sabido que muitos políticos, antes pobres – alguns até de origem franciscana –, hoje são ricos senhores de incalculáveis bens, embora tenham vivido modestamente remunerados pelo Tesouro do Estado.
O Imposto de Renda não os alcançou em nenhum estágio de seu enriquecimento, possivelmente ilícito. A Justiça não os julgou nem os condenou. O eleitor também não os puniu, negando-lhes o voto. Jamais foram castigados.
Deverei roubar, acobertado pela impunidade? Embora, inicialmente, tenha titubeado em responder entre o sim, o não e o talvez, menos por indecisão, mais para lembrar a representação cênica de folclóricas figuras, assemelhadas aos políticos de hoje, respondo: Não! Roubar é vergonhoso. Mesmo se dispusesse de foro privilegiado como os parlamentares, não o faria jamais. Precisamos de bons modelos para a nova geração. Ser honesto é imperioso hoje e nos dias vindouros.
(*) Crônica publicada no livro Umas e Outras, de minha autoria.