Saber votar, eis a questão!

Ultimamente, reeditei duas crônicas de minha lavra, escritas há alguns anos. A primeira foi intitulada ORAÇÃO EXPECTANTE, em cujas páginas questionei o Senhor por Ele não ouvir minhas preces, suplicando-Lhe punição para o político desonesto que abunda esse Brasil impuro. A segunda, ESTE NÃO É O MEU PAÍS, denominação usurpada de poema do cantor Zé Ramalho, paraibano como eu, concita o leitor a refletir sobre nosso passado e presente político.

Hoje, reedito a crônica sob o título em epígrafe e, mais tarde, o farei com outro texto, denominado MEU PASTOR MEU POLÍTICO, garantindo ao leitor serem estas as últimas reedições literárias submetidas à sua reflexão. Se as edito, o faço para atualizar fatos políticos, econômicos e sociais que envergonharam e, infelizmente, mancham a dignidade de nosso povo.

Espero ser entendido por esta iniciativa. Confesso ter sido motivado pela recorrência dos fatos delituosos, praticados por políticos e partidos de pouca ou escassa vergonha. Melhor seria classificá-los como despossuídos do mínimo de honradez. Ou nenhuma, para ser justo.

Aos setenta e três anos, votei muitas vezes, mesmo subtraindo o tempo em que fui impedido de exercer esse direito, por força do último regime de exceção.

Com essa idade, depois de frequentar a escola, inclusive de nível superior, de muito ler, ouvir e discutir sobre diversas áreas do conhecimento humano, de conviver com pessoas de notório saber, inteligentes, perspicazes, observadoras e críticas, julguei ter sabido escolher o dirigente do meu país, o governador do meu estado, o prefeito de minha cidade e alguns legisladores capazes de elaborar e votar leis justas e reparadoras de males passados.

Fui enganado. Presidentes, governadores e prefeitos, nos quais votei, não administraram corretamente o meu país, o meu estado, o município natal ou o que escolhi para viver e trabalhar. Revelaram-se incapazes como gerentes, perdulários, obsequiosos, interesseiros, apadrinhadores, alguns irresponsáveis e corruptos.

Senadores e deputados, beneficiados com o meu sufrágio, pouco ou nada fizeram para honrar as promessas de campanha. Não se aliaram aos seus pares para votar as reformas: tributária, fiscal, política, previdenciária e do judiciário. Optaram por alguns remendos, aqui e ali, apenas melhorando o quadro que, urgentemente, precisaria mudar.

Esqueceram-se de reformar leis e códigos obsoletos, que emperram o progresso do Brasil. Isso, a nível federal.

No âmbito estadual e municipal, as notícias não são mais alvissareiras. Se pouco ou nada fizeram na gerência do Estado, ou se legislaram mal ou insuficientemente, perdi eu e, por extensão, nós, brasileiros de boa fé.

Certamente, desperdicei a oportunidade de escolher homens bem preparados para o exercício do cargo, dignos, conscientes de seus deveres, zelosos, fiéis, e, sobretudo, honestos. Errei, ao sufragar-lhes os nomes. Fui iludido pela propaganda eleitoral. Meu julgamento, portanto, foi um desastre!

Nas próximas eleições, que estão próximas, talvez seja novamente enganado ou induzido ao erro, escolhendo mal os meus candidatos. Farei esforços para estar atento, embora saiba não ser fácil, pois os políticos são os mesmos: velhas raposas, escoladas, conhecedoras de nossa incompetência como cidadãos. Muitos são acusados de irregularidades administrativas. Outros estão sendo julgados pela Justiça. Alguns, pouquíssimos, por sinal, estão presos. Quanto aos novos, que dão os primeiros passos rumo às urnas, virão como cordeiros, travestidos de lobos.

Boa parte dos condenados por roubarem os cofres públicos, sentenciados a poucos meses de prisão, sentem o ar da liberdade soprar-lhes favoravelmente. Os “amigos do rei”, atualmente desfrutam o aconchego do lar, o conforto da casa requintada, a companhia de velhos companheiros, membros da quadrilha à qual pertencem. Estranho? Não, a lei permitiu-lhes trocar o desconforto do cárcere pelas regalias domésticas. Lá, poderão fazer, como sempre, a política rasteira, a prática de atitudes ilícitas, os contatos com criminosos de suas facções.

Aliás, não é assim que agem os menos influentes politicamente, encarcerados nos chamados presídios de segurança máxima? É o Brasil que conhecemos. Como mudá-lo? Você, eleitor, tem a resposta no dia 5 de outubro próximo. Saber votar é prova de maturidade política. Eis, portanto, a questão.