Pânico no Apê do Geraldo
Antes de mais nada, alguns esclarecimentos: trata-se de texto não recomendado para leituras após as 22 horas para aqueles sugestionáveis. Recomendo um leite quente que café é pior, dá insônia. Depois, a palavra Apê não encontra-se no dicionário do Word, de forma que fica aquela cobrinha vermelha enchendo o... deixa pra lá. De mais a mais, para os não iniciados, é apartamento, melhor dizendo, ‘apertamento’, outra que não encontra-se no World, vou ter que atualizar o mesmo que já não aguento mais...
Porém, não é aquele onde hoje vai rolar a festa do Latino, e sim aquele que usávamos como República e que já foi objeto de uma crônica anterior: “Geraldo, o Malas-artes”. Em todos os casos, para os que chegaram agora, os eternos retardatários, volto a afirmar que situava-se na Rua Mar de Espanha, no bairro Santo Antônio em BH, idos de 1964.
Isto posto e devidamente esclarecidos os leitores, vamos aos fatos.
Na época era comum o assalto em repúblicas de estudantes, não sei ao certo a razão desta infeliz escolha pelos larápios, talvez pelo contumaz relapso de não trancar bem as portas e janelas, quiçá pelo excesso de álcool provocando um sono profundo, mas convenhamos: pura perda de tempo, estudante esta sempre duro mesmo e esta regra não tem exceção.
Como se espalhou o medo na comunidade acadêmica, resolvemos tomar urgentes providências e deliberamos que de imediato, instalaríamos um alarme. Na época não existia Empresas de Segurança, com alarmes e cercas elétricas, de qualquer forma, como já disse, os custos seriam inviáveis para os pobres estudantes (nos dois sentidos, literal e figurado) de modo que teríamos que improvisar. Sendo este que vos escreve estudante de Engenharia Elétrica, deliberou-se em concorrida assembleia, considerando-se os prós e contras, que nada mais natural ser o escolhido para dar conta do recado, apesar da sua escassa experiência, conforme os contras.
Inicialmente, fiz uma consulta ao meu digníssimo professor Vinicius, diga-se de passagem, excelente em todas as matérias. Era um coringa e qualquer professor que faltasse e de qualquer matéria, lá estava a postos para suprir a vaga. Não sei se sabia de tudo, mas tinha o dom de dominar qualquer assunto. Acho até que poderia, sem dúvida alguma, dar aula de Educação Sexual ou se preciso Grego, quem vai saber...
Voltando a vaca fria, trocamos ideias, eu e ele naturalmente, e decidi montar um circuito consistindo de uma campainha (alarme) a ser acionada por chaves do tipo faca (sensores) - uma lâmina articulável que encaixa-se numa garra fixa, se não entendeu, melhor usar o Google, aqui não tem como colocar imagens por enquanto - a serem montadas nas duas portas do apartamento: entrada principal e cozinha. Bem, as ligações naturalmente eram por fios elétricos, wireless e assemelhados nem se sonhava na época...
Tudo devidamente documentado num desenho consubstanciado no projeto preliminar a ser transformado em executivo, após a deliberação e aprovação da assembleia. Traduza-se, os gastos necessários, pois a mão de obra seria do autor.
O funcionamento era simples, no batente ficava o suporte (receptor) e a faca na porta a uma pequena distância uma da outra de tal forma que, o mínimo movimento de abrir a porta, a faca adentrava o suporte fechando o circuito e energizando a campainha que disparava. A noite, quando todos já se encontravam em casa, as facas eram posicionadas pelo último a chegar.
Depois de instalado, assim foi até que uma noite, já quase todos dormindo, exceto o Geraldo que estava tomando aquele banho relaxante, quando intempestivamente a campainha disparou. O barulho era ensurdecedor, pois escolhemos de propósito a campainha mais estridente do mercado de forma a acordarmos do mais profundo sono ou ressaca brava, o que se provou ao assustar mais os moradores, inclusive os vizinhos como se verá a seguir, do que ao pretenso gatuno!
Ato continuo, o Geraldo, de tanto susto começou a gritar, saindo correndo literalmente nu e ensaboado do banheiro, tentando se enrolar na toalha, numa cena digna de filme pastelão. Do tipo Psicose do Hit Sem Coque que já abordei numa Crônica anterior: “Do estilo do escritor”, que por sinal, fiquei devendo um final mais plausível, vou pensar no assunto e reescrever. Em tempo, aqui não tinha aquela cortina de plástico encardida com peixinhos não, depois do banho era agua por todos os lados.
Acordados pela algazarra, ainda tateando no escuro e meio sonolentos, levantamos apavorados, pressentindo a presença iminente do larápio, naquela escuridão toda. Talvez portando uma faca como aquela do texto citado agora pouco.
Até conseguirmos pôr alguma ordem na coisa, já havíamos despertados os vizinhos, tínhamos dois no piso inferior e um no nosso andar, estes sim, chamaram prontamente a polícia, que rapidamente enviou uma viatura da Rádio Patrulha para atender a ocorrência.
Neste ínterim, percebemos com alívio, estarem às portas devidamente fechadas sem intrusos, porem que estava ventando muito e, inadvertidamente quem armou as facas do dito sensor, deixou uma distância muito pequena de modo que, o vento ao bater na porta, a movimentava fechando contato. O local era alto e ventava muito.
Constatado o defeito, rapidamente desligamos a campainha, mas não tão rápido para evitar a chegada da viatura policial que estacionou em frente ao prédio. Para evitar problemas e apavorados pela situação incomoda provocada, desligamos todas as luzes e ficamos na espreita do desenrolar dos acontecimentos. Felizmente, tudo acabou bem, os policiais ficaram algum tempo observando o prédio, olhando para nossa janela de frente do imóvel e como não houve nenhum movimento, muito menos suspeito, se foram.
Não sei se foram os mesmos que atenderam a ocorrência com o Geraldo descrita na outra crônica, se sim, devem ter-se chateado de terem sidos despertados desnecessariamente para atender uma nova ocorrência envolvendo o mesmo meliante, de novo aprontado, e se mandaram que a noite era uma criança. Ufa....
Em consequência do ocorrido, resolvemos por bem desligar o alarme, pelo menos enquanto o Geraldo estivesse por lá, rezando para que os larápios de plantão não escolhessem nossa humilde residência (de novo não a do Teló).
Outra ocasião, e de novo protagonizado pelo Geraldo, sempre ele, o dito resolveu aplicar um susto no primeiro incauto que chegasse tarde da noite. Talvez para descontar noutro o susto levado no caso acima citado. Para tanto, utilizou da batina (já referida na outra crônica acima citada: resquícios dos tempos de seminarista) que foi pendurada com barbante no lustre da sala e completada com uma caixa de sapato onde se desenhou sombrio rosto, tudo arranjado, com o auxilio do Renato, de modo a formar um vulto fantasmagórico, destinado a impressionar a vítima; só faltou a faca já citada...
Ademais, o espertinho retirou a lâmpada de tal forma que a escuridão seria quase total, apenas uma débil réstia de luz da rua, entrando pela janela (esta lateral, não era aquela famosa já citada) formava a cena necessária à persecução de seus intentos.
Enfim, não deu outra, porém não me lembro quem foi a vítima, apesar de ter presenciado a montagem do cenário. Provavelmente o Aloísio, nem se houve gritos de terror, pelo menos não se ouviu. O susto só não foi maior, porque o protagonista, percebeu em tempo que estava sendo objeto de uma pegadinha que não era do Faustão (aquele gordo, agora magro e chato dos domingos da Globo) e se sabe que em Republica de Estudantes tem que ser prevenido, porque o bicho pega mesmo.
As estórias são muitas de modo que certamente voltarei a atacar de novo. Pobres dos leitores, realmente vão ter que me engolir, que nem engoliram e presumo, engolirão de novo o sapo barbudo. Não nesta, mas na próxima eleição, não é Dilma?
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