Histórias e mais histórias

Cumpro o prometido. Nesta segunda crônica e na sequência dos textos futuros terei muita história para compartilhar com o estimado leitor, esforçando-me para transmitir-lhe os acontecimentos de um passado distante, ocorridos em Israel, Turquia e Grécia. Hoje, falarei de nossa passagem por Tel-Aviv e Jaffa, esta última também conhecida como Jope, cidades israelenses que marcaram o início de nossa viagem à Terra Prometida.

A aeronave pousou no Aeroporto Ben Gurion às 2h40, horário local do dia 7.5.2014. As excelentes instalações do aeródromo israelense chamaram a nossa atenção por sua capacidade operacional. Grandes espaços físicos, piso revestido de granito, esteiras rolantes sem degraus a fim de amenizar o esforço do passageiro ao conduzir malas e sacolas, bagageiros modernos e variados equipamentos eletrônicos complementam o ambiente colorido, ornamentado por vistosos painéis luminosos.

A denominação do aeroporto homenageia o judeu polonês Ben Gurion (1886-1973), expoente da liderança do sionismo socialista, por duas vezes primeiro-ministro de Israel: de 14 de maio de 1948 a 7 de dezembro de 1953, e de 2 de novembro de 1955 a 21 de junho de 1963. Sionismo é o nome do movimento internacional judeu, resultante da formação do Estado de Israel, ocorrida em 14 de maio de 1948.

O povo judeu reverencia o brasileiro Osvaldo Euclides de Sousa Aranha (1894-1960), natural de Alegrete, Rio Grande do Sul. Osvaldo Aranha presidiu a II Assembleia Geral das Nações Unidas, quando da votação e criação do Estado de Israel. A partir daí, o antagonismo entre árabes e judeus não se arrefeceu. Até hoje as partes beligerantes vivem desafiando a paz no Oriente Médio. É o que acontece atualmente. A guerra entre Israel e seu belicoso vizinho palestino, desde meados de julho de 2014, tem causado a perda de preciosas vidas. Pessoas idosas, mulheres e crianças inocentes sucumbem à sanha beligerante dos inimigos da paz. A trégua aos combates entre as partes belicosas temporariamente em vigor não dispensa a preocupação sobre a reincidência das agressões.

A cidade de Tel Aviv nos impressionou bastante. Seu nome vem do hebraico e significa Colina da Primavera. O início de sua construção ocorreu em 1909, por vinte e duas famílias judias residentes em Jaffa. Hoje, a cidade desponta no cenário mundial como a décima sétima metrópole mais rica do mundo, concentrando a maior quantidade de edifícios do planeta.

Tel Aviv é o principal centro econômico, tecnológico e cultural do país sionista. Trata-se de importante e abastada comunidade israelense, a segunda do Oriente Médio. Sua população é de quatrocentos mil habitantes, dos quais 91,8% são judeus, 4,2% árabes e 4,0% cristãos e budistas. Com praias originárias do Mar Mediterrâneo, tem temperatura média de 20 graus Célsius. Lá, estão instaladas empresas de alta tecnologia e institutos de investigação científica de incomensurável importância. Algumas das recentes invenções e descobertas do mundo moderno saíram dos laboratórios dessa colina primaveril. Trata-se de uma cidade jovem, com apenas 105 anos de existência, porém amadurecida por força da responsabilidade social e histórica de um povo determinado.

Em plena madrugada do dia 7 de maio de 2014, fomos acomodados no Marina Hotel, estabelecimento confortável situado às margens do Mar Mediterrâneo. No dia seguinte, embora cansados, abrimos mão do conforto para dar início à jornada de exaustiva peregrinação. Às 08h00, já de pé, fomos revigorados por farto café da manhã. Depois, saímos para acomodar as malas no ônibus que nos transportou durante o período da excursão.

O grupo aplaudiu a chegada de nosso guia, Salo Kapusta, judeu messiânico convertido ao cristianismo. O nome original de Salo é Bezalel, inspirado no Livro de Êxodo, capítulo 35, versículo 30, segundo o qual dissera Moisés: "Eis que o Senhor chamou pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá". Salo nasceu na Venezuela, indo morar em Israel aos 17 anos. É fundador e membro do Instituto Bíblico de Jerusalém. Seus conhecimentos são respaldados pela formação acadêmica na área de engenharia mecânica, na University of Haifa. Atualmente, exerce a atividade turística como Professional Tour Guide. Ele nos guiou por todo o tempo de peregrinação pela Terra Prometida. Trata-se de poliglota hábil nos idiomas espanhol, árabe, inglês, alemão, francês e hebraico.

Fomos à Jaffa, também conhecida por Jope, hoje parte da grande Tel Aviv. Jope foi importante porto marítimo de antigamente e destacado caminho de embarcações pela Via Maris, ligando o Egito à Mesopotâmia. A cidade teria sido fundada por Jafé, filho de Noé, há mais de 4.000 anos. O rei Salomão transportou para lá, do Líbano, a madeira necessária à construção do Templo de Jerusalém.

De Jope, Jonas saiu em viagem a Nínive, onde deveria cumprir determinação de Deus para clamar contra ela, pois sua malícia subira ao Senhor. Ele se dispôs a cumprir a ordenança divina, mas desviou-se para Társis, região da atual Espanha. A desobediência custou caro ao emissário, tragado por um grande peixe, em cujo ventre permaneceu por três dias e três noites.

Havia em Jope uma discípula por nome Tabita, nome este que, traduzido, quer dizer Dorcas; era ela notável pelas boas obras e esmolas que fazia. Tabita morreu e ressuscitou depois de o apóstolo Pedro orar ao Senhor. Disse ele, pondo-se de joelhos: "Tabita levanta-te!" Ela abriu os olhos e, vendo a Pedro, sentou-se.

Estivemos no local onde teria sido a casa de Simão, o curtidor. Era a terceira vez que ali estávamos minha mulher e eu. Lembramos nosso compromisso de realizar culto de agradecimento a Deus, às sextas-feiras, por ter o Senhor curado os nossos netinhos Raphael e Isabelle. Na ocasião, costumo recitar os versículos 32 e 33 do capítulo 10 do Livro de Atos, destinando-os ao mensageiro da noite. Faço minhas as palavras bíblicas, concitando o pregador a transmitir o recado de Deus aos presentes. Eis o que dizem os mencionados versículos: "Manda, pois, alguém a Jope a chamar Simão, por sobrenome Pedro; acha-se este hospedado em casa de Simão, o curtidor, à beira-mar. Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor".

Napoleão Bonaparte cercou a cidade de Jaffa (Jope) com seus comandados, em 1799. Os franceses levaram a população ao pânico. A turba napoleônica saqueou mosteiros cristãos e aprisionou os monges que neles viviam. O general francês não permitiu ao general Damas atacar Jerusalém, antes de conquistar Acre, domínio de Ahmet Jazzar Paxá, o açougueiro, alcunha do sanguinário soberano. Dizia o tirano: “O medo motiva os homens mais que qualquer outra coisa”. Essa excrescência humana costumava mutilar seus súditos, amputando-lhes membros, nariz, orelha ou olho ao desconfiar da mais sutil deslealdade. Ele os chamava de “homens marcados”.

Napoleão não era menos selvagem e sanguinário. Quando atacou Jaffa, os soldados do imperador massacraram a população, cortando pessoas aos pedaços, sob o olhar condolente e desesperado das mulheres e dos pais das vítimas. Uma inditosa jovem foi estuprada sobre o cadáver da própria mãe.

O imperador francês e seus comandados marcharam contra Acre. Ele mandou executar a sangue frio cerca de quatro mil combatentes do açougueiro, mas, finalmente foi vencido e amargou a morte de 1.200 soldados de sua tropa. Outros 2.300 ficaram feridos. Em retirada, Napoleão fugiu para o Egito. Como havia 800 soldados franceses hospitalizados, o general ordenou que seus médicos os matassem.

Brevemente estarei de volta, caro leitor. Não devo cansá-lo com leituras extensas, embora proveitosas. Já disse uma vez e repito: “não se avexe!”. Logo, logo lhe oferecerei novas histórias dos lugares por onde passei, recheadas de acontecimentos fantásticos e inspirativos, sejam eles bíblicos ou seculares. Ok?