O FACEBOOK FAZ MAL?

Comentar sobre o óbvio é semelhante ao exercício de explicar uma piada, mas a verdade é que este óbvio aparece para a grande maioria, restando uma minoria que não o digere muito bem. Vou falar sobre o mundo encantado do Facebook e defende-lo das críticas mais veementes. Quando se cria uma página pessoal de relacionamento no mundo virtual, a gente deseja comunicar-se, recuperar relações, fazer novos contatos e atualizar os amigos. A crítica mais comum é que só se vislumbram aí os momentos felizes, as notícias de coisas boas e de sucessos e que a vida real é bem diferente, cheia de problemas e de tropeços. Mas, convenhamos, não tem cabimento publicar uma foto do sujeito acamado, arrasado, febril, de pijama e barba por fazer. Não é proibido, mas pode ser de mau gosto. As pessoas, na sua esmagadora maioria, sabem que um site assim, via de regra, é para compartilhar coisas boas, embora muitas vezes notícias tristes também sejam divulgadas e é conveniente que o sejam. Agora, pareceria, por exemplo, um tanto mórbido alguém exibir a foto de seu barzinho interditado pela vigilância sanitária ou do seu caro primo algemado no camburão partindo para o xilindró. Também não tem cabimento alguém tornar pública uma foto romântica num paraíso tropical, quando está odiando tudo aquilo e prestes a jogar o seu par do penhasco. Só não aturo os oportunistas que frequentam o meio quando estão em qualquer tipo de campanha eleitoral, carentes de apoio e, depois, somem como num passe de mágica. Também não suporto os que só se vangloriam e se exibem, mas são incapazes de interagir em solidariedade nos momentos imperativos. Melhor que estivessem fora da rede, pois qualquer meio demanda um mínimo de atenção para com o outro; falhar pode ser normal, esquecer, não ter tempo, mas falhar sempre demonstra falta de caráter. O resto vale. Não acredito em análises que apontam a fantasia facebookiana como causadora da infelicidade ou frustração de quem quer que seja: se o indivíduo é tão invejoso e competitivo, que se mude para uma ilha deserta ou faça um bom tratamento! A fotinho do seu alegre churrasco domingueiro com família e amigos jamais poderá fazer alguém jogar-se pela janela, por mais depressiva que essa pessoa possa ser. Se invadiram sua casa ou lhe tomaram os amigos e parentes, fique apenas brabo e acelere a sua autocrítica. Enfim, se milhões de pessoas navegam na rede, agindo como agem, ruim não é, fiquem certos disto, muita gente comunica-se bastante bem. No mais, é como dizia o colunista social dos idos tempos, Ibrahim Sued: “Enquanto os cães ladram, a caravana passa, sorry, perifiria, e à demain, que eu vou em frente!”.