Saudades, Ariano Suassuna!

Quando soube que o Ariano Suassuna estava doente e que seu estado havia piorado, fiquei em choque. Alguns veículos de comunicação já davam como morto antes mesmo de sua morte no dia 23 de julho de 2014. Esta data ficará marcada, mesmo por aqueles que pouco acompanharam a sua caminhada. Confesso que do Ariano conheço apenas o básico do básico e só comecei a acompanhá-lo quando vi uma de suas palestras disponíveis no you tube. Mas, só isso já bastava para aumentar a minha admiração. Nunca ri tanto na minha vida e aprendi coisas que a escola nunca me ensinou.

Quando o Ariano Suassuna veio para a minha cidade, Vitória da Conquista, sabia que sua voz estava fraca e que pouco conseguiria entender o que dizia diante de uma grande platéia curiosa e que tanto venerava. Por conta disso, decidi ficar em casa e esperar a boa vontade de alguém que pudesse deixar disponível o registro, se não todo, pelo menos alguns minutos de sabedoria compartilhada por esse grande autor que tem deixado por onde passa, cada pedaço de sua história e simplicidade.

Se há uma palavra que pode descrever o Ariano como é acredito que ‘’simplicidade’’ seria a palavra certa. Sinceramente, nunca vi alguém dotado de tanto conhecimento e ao mesmo tempo tão de compaixão e cordialidade. Não vou dizer que era modesto, porque não o conheço de perto, mas existia algo como a generosidade. Aliás, quem com mais de 80 anos viajaria pelo mundo pra compartilhar o seu conhecimento, diante, inclusive, de pessoas que nunca tiveram a oportunidade de saber mais do que seu próprio nome? Quantas pessoas que você conhece que antes do autor morrer, sabia quem era o Ariano Suassuna? E quantos, como dizia o próprio, não o confundiram com o doutor Drauzio varella?

Sobre uma das coisas que aprendi como o Suassuna, além da importância da simplicidade e generosidade, foi o amor à própria cultura. Penso que devo ter me identificado com isso, pois sempre acreditei que há muitos lugares e artistas brasileiros que merecem a mesma atenção daqueles artistas já consagrados e até hoje lutam por ela, seja aqui ou por fora. Tem gente que diz que o rock brasileiro morreu, que não existe mais o axé como antes e que o pop não tem evoluído. Um monte de besteiras. Se você for procurar em sites de músicas novas, verá que existe uma infinidade de artistas querendo mostrar o seu trabalho, com gravadora ou sem gravadora, tem se mantido firme e fieis aos seus trabalhos, mesmo com todas as dificuldades que todo músico sofre e de uma qualidade tão grande e muitas vezes, muito mais valorizada pelo público lá fora. O problema é que não podemos esperar e engolir tudo o que a grande mídia, em especial a Tv aberta, nos jogam como migalhas, como se fosse só isso que o mundo tem a nos oferecer.

E os livros? Será que a maioria das pessoas valorizam mais a literatura nova ou ainda buscam em autores ( sem querer desconsiderá-los) como Clarice lispector, Machado de Assis, Drummond e Paulo Coelho? Será que eles sabem quem são os artistas da sua própria terra? Será que é preciso o autor morrer para se ter conhecimento de alguma de suas obras?

Outra coisa foi o desapego com a tecnologia. O Ariano dizia não sentir raiva por ser chamado de ‘’arcaico’’, pelo contrário, sentia orgulho. Até brincava dizendo que falar pelo celular com alguém tão distante parecia ser coisa do além. O bom mesmo, é a presença viva de alguém. Melhor escrever por cartas, sentir o perfume do papel, os garranchos de ansiedade, medo ou de saudade. Não dizem por aí que as coisas mais belas do mundo está nas coisas mais simples da vida?! Então, também gostaria de ser um pouco arcaica e aprender a viver a vida de forma simples. Quem não gostaria de ser assim?

Raquel Dantas
Enviado por Raquel Dantas em 25/07/2014
Reeditado em 25/07/2014
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