ANTES DO FIM

Foram tantos os silêncios que vieram ocultos entre o verbo incerto. Foi tanto quero-não quero envolto em panos de uma velação covarde; sem qualquer contexto justificável. Muitos anos contidos nos impasses de quem vinha-não vinha; estava dentro de si. Concentrada no mundo atrás das grades do próprio umbigo.

Num adeus que se congelou em desempenhos para não ter que assumir o próprio aceno, fizeste um longo teatro. Entre cenas sutis e sorrisos mansos, teus engenhos diziam para os meus pés, que o cansaço era meu. De mais ninguém. Era do meu brio a responsabilidade única de resolver a questão daquele afeto.

Se ao invés da ribalta em que te ocultavas, tivesses deixado a transparência do silêncio mais franco e da palavra mais funda ganhar consistência, tudo seria diferente. O que foi vazio ganharia essência. O que não fazia sentido seria meu socorro; meu aviso de que o mundo aguardava com outra vida.

Ou se tua distância não tivesse apontado indícios de uma falsa presença... tua placa enganosa e abstrata não tivesse fincado estaca em minha carência desejosa de quimeras... e se não tivesses brincado assim de não brincar comigo, eu teria saído em tempo hábil... teria dado fim antes do fim.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 17/07/2014
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