Um passo à frente para o Brasil
Tive recentemente uma conversa via redes sociais com alguns amigos onde um consenso foi a previsão de nuvens negras no horizonte dessa campanha eleitoral que se aproxima. A meteorologia política apresenta sinais claros: uma tensão no ar, temperatura elevada, pressão atmosférica explodindo, eletricidade a ponto de formar raios. O momento do país é estranho, especial. Passamos pela primeira Copa do Mundo de futebol onde o povo brasileiro conseguiu prestar tanta atenção na política quanto no futebol. O caldeirão de agitação política é composto dos mais variados ingredientes: o desconforto social, o cansaço do brasileiro comum com a situação precária da saúde e da segurança pública, a roubalheira ainda não investigada (mas de conhecimento de todos) nas obras para a Copa do Mundo, a vaia à presidente Dilma, o desencanto de uma parcela crescente da população com o governo programático e ineficiente (exceto para o próprio partido) do PT, a falta de uma oposição verdadeira e atuante ao governo durante mais de uma década por parte dos partidos que deveriam ser de fato de oposição. São muitos ingredientes num sopão estranho que chega até a borda do caldeirão, e que nesses meses que antecedem a eleição, começa a ferver. O caldo vai transbordar, disso não há muita dúvida. O que é incógnita ainda, é como. Se irá escorrer do caldeirão, se tentarão tampar e o negócio irá explodir, só o futuro dirá. Mas uma coisa é certa. Nossos políticos tradicionais, repetindo o erro de avaliação que cometeram nas manifestações de junho de 2013, não estão preparados para nada disso.
Eles entendem apenas da manutenção de suas vantagens, status e poder. Tudo que estarão pensando é em como se comportar nessa tempestade de forma a não perderem suas boquinhas. É o mais básico dos instintos de autopreservação. O político de que o país precisa ainda não "nasceu". Digo, até existem alguns que se encaixariam nessa alcunha, de "político que o país precisa", mas eles são pouquíssimos, estão perdidos boiando num mar de chorume que são seus colegas mais tradicionais. Pra que esses políticos novos (não na idade, mas na maneira de pensar a política) possam trabalhar direito, render no jogo, precisará mudar muito desse sistema que temos hoje. O sistema que funciona agora é todo montado pelos políticos digamos, tradicionais. Atende à necessidade primária deles, que é o cartel de interesses, a manutenção do poder, das vantagens e privilégios. Os políticos novos que estão lá tem muita dificuldade de jogar o jogo das velhas raposas. Não é de se espantar, pois muitas das própria regras do jogo são ofensivas aos novos políticos. Para que isso mude, o país, o sistema, e a própria mentalidade dos brasileiros precisa dar um passo à frente.
Considero que um passo à frente para nosso país seria uma "desideologização" da política. Muitos poderiam se adiantar para achar essa ideia absurda, principalmente os mais radicais, mas a ideia é simples. Vemos, no dia a dia do sistema político brasileiro, duas realidades. Uma, é um infrutífero, (ainda que democrático) debate de ideias, muito polarizado e maniqueísta. É 8 ou 80, é bem contra mal, é ou você concorda comigo ou você não presta. A outra, é uma absoluta amoralidade por parte dos jogadores, os políticos que estão dentro de campo. Não importa o partido, não importa o cargo, a grande maioria tem como preocupação primária a garantia de vantagens, poder e rendimentos para si próprio. A manutenção de seu status quo e muito em seguida, se sobrar tempo, talvez, pensar em trabalhar como político.
Essa discrepância entre esses dois aspectos vem sendo uma chaga que sangra sem parar o dinheiro dos impostos, e atrasa o país. Talvez seja a hora de uma nova "raça" de políticos entrarem em cena. Em primeiro lugar, tem de ter vontade de melhorar o país, pra que tudo melhorando, até mesmo a vida dele melhore também. E depois, tem que pensar que o país é um só, então o país vem em primeiro lugar, e a ideologia e o debate de ideias pode até existir, mas o país tem que vir em primeiro. Desideologizar a política, passa a ser então condição sine qua non para um avanço sólido, real e igualitário para nosso país.