A CULTURA DA CORRUPÇÃO

A CULTURA DA CORRUPÇÃO

(José Ribeiro de Oliveira)

Nós, brasileiros, na formação da nossa identidade, diante das dificuldades e movidos pelo próprio instinto de sobrevivência, fomos levados, desde os primórdios da nossa história, a desenvolver aptidões e habilidades que pudessem nos permitir uma saída, ainda que momentaneamente, das dificuldades rotineiras. Assim, desenvolvemos o "jeitinho brasileiro". Em alguns casos, é até elogiado e conotado como uma inteligência mais acentuada, uma vivacidade, sagacidade, esperteza. Mas de tanto ser cultuado o tal jeitinho, ele passou a não ter mais limites. Nascem, então, as especialidades do "jeitinho", agora, com maior pitada do jogo de cintura, passando a ser festejado e incorporado pela sociedade. Surgem outras derivações: "lei de Gerson", "lei da vantagem" e vai por aí. Estes comportamentos evoluíram nos seus propósitos e, cultuados como atitudes consideradas “saudáveis” ou naturais peculiaridades do nosso povo, desenvolveram em nós um ligeiro desapego pela honestidade. Sob a égide de tais institutos, fomos aos poucos construindo, mesmo disfarçadamente ou inconscientemente, uma espécie de corrupção, aquela que atinge o caráter do indivíduo e nele fica incubada, podendo a qualquer instante manifestar-se. É como se fosse um vírus, que mesmo presente no organismo, pode ou não revelar-se, assim acontecendo mais costumeiramente quando há uma queda do sistema imunológico que comporta a mora e a ética. Esta espécie de corrupção, invisível, presente no caráter do indivíduo, poderá repentinamente aparecer diante de um interesse. É o que chamamos de corrupção moral, a primeira manifestação do desvio de caráter do homem, como pressuposto para que haja a corrupção material.

Uma vez instalada a corrupção moral, basta a motivação de um interesse, impulsionado por um dos “institutos” de que antes falamos, para dar ensejo a uma incidência geradora do espírito de desigualdade social.

Na defesa do interesse e movido por um querer vantajoso a qualquer custo, o indivíduo não só viola os princípios naturais de respeito e confiança recíprocos, como também estimula no outro, até por instinto natural de auto defesa, a adoção do mesmo comportamento. A partir de então, difunde-se uma cultura de comportamentos não convencionais, tornando inseguras as relações entre os indivíduos e, por conseguinte, desprezando o princípio da confiança e exigindo cada vez mais artificiosidades como garantia das relações interpessoais. Esta evolução se deu expressivamente no terreno fértil da política, onde os interesses em jogo são dos representados, que não participam das discussões, deixando ao alvitre do representante toda a barganha. Ora, o exercício do poder é viciador, pela própria natureza da atividade e pelas habilidades que dela se extraem. Os sujeitos que alçam o poder, são aqueles que possuem melhor desenvolveram essas aptidões, despindo-se de princípios e valores que deveriam ser da essência da outorga. em meio a todos esses vícios, tais indivíduos aperfeiçoaram a arte de enganar, de tirarem proveito do poder, enriquecerem tão somente. E chegando a esse estágio, formataram, dentro da rede estatal, uma espécie de autoproteção, onde a própria estrutura do Estado gira em torno de grupos, facções, extremamente organizadas e denominadas, como cortina de legalidade e legitimidade, de "partidos políticos. Dentro dessas organizações, formatam os poderes e neles infiltram seus membros, aparentemente eleitos ou indicados por uma corte, mas exercendo suas atividades exclusivamente a serviço dos seus grupos. e se algum benefício alcança a sociedade, é apenas por respingo. Este Brasil precisa passar a limpo. Esse Brasil está com seus dias contados. Haveremos de ver.

Professor José Ribeiro de Oliveira
Enviado por Professor José Ribeiro de Oliveira em 09/06/2014
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