TURISMO EM CASA

É comum hoje em dia a gente sair mundo afora, descobrindo novas culturas e povos. Todos temos este desejo. Mas há certas coisas que me incomodam um pouco, não só quanto a desconhecer vastos espaços interessantes, deslumbrantes, do Brasil, como, especialmente, deste nosso rico e diversificado Rio Grande do Sul. Vejam só: meus amigos parisienses, Gérard e Martine, sonham conhecer um lugar que eles reputam mágico: as Missões. Aliás, o sonho deles provêm de várias fontes, mas de uma em especial, que é uma amiga também francesa do casal, com alto cargo na ONU, que já esteve nas Missões e ficou fascinada. É bem verdade que o sonho europeu é a Amazônia, os índios, o Pantanal, sem muita frescura civilizatória. As favelas do Rio de Janeiro também entraram na moda.

Incomoda-me não conhecer as Missões, assim como outros lugares interessantes aqui do Estado, que tem belezas paisagísticas e culturais extraordinárias, muito além dos consagrados pontos turísticos da Serra e do Litoral, que a gente frequenta. Creio que conheço relativamente bem o meu Estado, inclusive morei vários anos no interior, mas isto não me contenta: o fato de você já ter ido, há 15 ou mais anos, a um determinado lugar não significa que não deva revisitá-lo. Claro, fazer uma frutífera viagem à Índia, à China, à Rússia ou não importa a que país, é importante, uma delícia, adoraria ter a chance, mas creio que vai ficar para uma próxima encarnação. Afinal, não há tempo para tanta coisa, o mundo é imenso, atrativo, desafiador e sou um tanto preguiçoso. Não curto trajetos muito longos de viagem. Tenho pensado em desfrutar um pouco mais as nossas coisas, a variedade do nosso habitat, que, quando a gente conhece, nem acredita e se encanta, tanto quanto aqueles que vêm de fora e destacam o nosso Rio Grande do Sul. Mas conhecer de verdade, aproveitar a fundo, sem aquela pressa de cumprir agenda e tirar uma foto. Conto com uma dificuldade adicional para alçar maiores vôos, sem falar nos três cãezinhos Poodle que moram conosco: minha mulher trabalha e não deverei estar vivo para saudá-la no dia da aposentadoria. Enfim, a gente faz o que pode.

Quando se vai a Alegrete, Livramento, Bento Gonçalves, Encantado, Itaqui, Rio Grande, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Santa Maria, Bagé, Putinga ou Itaara não é, evidentemente, para ver algo como Torre Eiffel, Louvre, Champs-Élisées, Quartier Latin, Rossio, Times Square ou Trafalgar Square. Cada um no seu quadrado. Quando conheci Funchal, na Ilha da Madeira, em 1967, fiquei encantado com aquele mundo quase medieval que se revelava numa natureza exuberante. Não era ponto turístico badalado, mas escala do navio. Valeu, foi marcante. O que importa realmente é a disposição, o desejo de usufruir, aquele ânimo especial de ver o mundo por outros ângulos, sem afobação e com deleite. Aí, poderemos descobrir que o extraordinário mora ao lado. Agora, então, com nossa moeda bastante desvalorizada em face do euro, dólar, libra e outras, o turismo em casa fica mais estimulante para descobrir o país e, afinal, quem realmente somos. Tendo responsabilidades familiares e não sendo abastado, na minha cabeça não entra a hipótese de usufruir férias de verão no exterior com muito aperto orçamentário. Passou o tempo das férias de grande esforço econômico. Vou aonde posso, na boa, sempre no intuito do máximo proveito, sem exageros, é claro. Não me parece aceitável a ideia de viajar em dólares ou euros, torrar os pilas, e, depois, ficar estoicamente economizando no dia a dia - que é a coisa mais importante. Viagens devem ter efeitos econômicos anuais relativamente neutros. Mas cada um com seu cada qual, quem pode, tem mais é que se espraiar. Estivemos agora em julho em Bariloche, alta estação, mas o dólar estava, pelo menos, quarenta por cento mais barato. Então, com a nossa moedinha ora rastejando, e querendo, acima de tudo, passar bem, vou novamente para o Rio de Janeiro, depois do carnaval. Enquanto isto não acontece, Gramado e outras plagas regionais deverão bastar-nos. Turismo em casa tem seu valor e o nosso suado ouro não vai facilmente para os gringos.