Coisa Ruim
Falar de quê, de mim? Mas um quê é coisa, serei metade assim? Quem: sujeito indeterminado até que eu termine esta canção egóica a me sujeitar no fim, em desfecho não-aberto, entrega absoluta do sim no casamento. Um nome! Não falarei, então, do fato. Mesmo sendo criatura criadora do feto através do falo, em cópula com a boca desdentada na altura do ventre abaixo, não ditarei as regras do grávido umbigo. E olha que ele é rei! Você é cego? Nesta terra rara que há de nos comer, qualquer pedrinha custa ao menos um olho da cara. Ser ou perecer? Parece a cogitação do pobre-diabo nascido do medo calado e crescido na decaptação de uma renda per capita que reza o tu-és-aquilo-que-tens, por bens ou por maus. Bocados...
Paga-se a vida inteira pela própria morte. E há quem cuide também da sorte dos outros, zumbizados pela inconsciência, rendidos pela comoção aprendida nas novelas dos meios de comunicação em massa, onde tudo acaba em pizza. Final feliz que se revela enquanto eu não terei saída, sob a tortura da curiosidade alheia. Cova rasa e súbita, mas sei que isso passa. Passados os tempos da ditadura, ficou mole, agora a manipulação é subliminar. Se se faz de vítima. Você se liberta com a marginália à solta? Epa, espera aí, os marginais agora somos nós, à beira-margem gradeada, burguesinhos da casa grande, em condomínios sob os domínios das câmeras espalhadas. Não há mais quinze minutos de fama, apenas vinte e quatro horas pelo resto de nossas anonimanias inanimadas ante o suplício da falta de privacidade. A cidade priva. Animais-indivíduos: individuais. Canibais cabedais capetalistas. Enjaulados no refrão ecooso de uma música oca em volume máximo do absurdo sonoro.
Vertigem na verdade. Que linguagem é essa? Vislumbro a paisagem do aborígene desculturado a contar coisa alguma com outra sequer. Comer... Comercial. Uma pausa. Quem respira? Suvácuos em ônibus. Povos marrom-diarréicos, brancos anêmico-mofados azedos, amarelesverdeados de patridiotismo. Sem. Estamos perdidos, engarrafados na lâmpada apagada de Aladim, popupoluente ríspido com suas jangadas entregues ao mar, símbolo do atraso nosso a rogar ajuda ao tridente do mágico. Venda sua alma para ele a preço de banana nanica. Gato por lebre na cartola do Netuno. Picas. Mexa no baralho, há cartas na manga:
Reis de paus e Ás... Ai, mas seria ele o Satanás?!?!?
Por: Paola Fonseca Benevides
In: http://cauin.blogspot.com/ (CAUIN - Cooperativa de Autores Independentes, Fortaleza - CE)