NÃO TEM PREÇO

Comprei o apartamento onde moro com Andrea e Gabriel há seis anos anos. Gastei os tubos para bem decorá-lo e torna-lo confortável, dentro, é claro, das minhas medidas. Conosco veio Bidu, um poodelzinho da família de Andrea, originário de Torres. Poucos meses após a mudança, Andrea, no dia dos namorados, deu-me de presente Chopinho, filho de Bidu com outra poodle de Torres, de propriedade da empregada de seu pai, sobrevivente único de uma ninhada de quatro: uma bolinha de lã branca. Foi um processo lento de adaptação, sobremodo por que sabia que bichos detonam os móveis e afetam a rotina familiar. Não deu outra, destruíram boa parte de nossos móveis novinhos em folha, mijaram por tudo, inclusive, acreditem, na tela do meu computador, que me obrigou a uma troca de tela e a uma nova aquisição de PC. Bidu é bem mais disciplinado e contido, mas o que a Andrea me deu de presente, Chopinho, é carente e irreverente e, quando relegado em casa por muito tempo, sem nossa companhia, distribui o seu xixi em protesto. Me neguei e me nego em mandar castrá-lo, ele já tem, hoje, seis anos. Geralmente, por sorte, mijam em locais que não causam maiores estragos e “la nave va”. Se eu for computar os gastos - além do custo mensal para mantê-los, com banhos semanais, tosa, ração especial, coleiras, guias, capas de chuva e vacinas regulares – talvez tenha de protelar várias viagens que tenho em mira. Agora mesmo, por exemplo, estamos em vias de trocar os sofás da sala, grande parte em função da atividade dos bichinhos nos últimos tempos. Enfim, devo dizer que o custo desta amizade não é barato. Além dos três ou quatro passeios diários pela quadra, faça chuva ou faça sol. Todavia - e aqui vai o meu manifesto - nada substitui a lealdade, o apego, o carinho, a dedicação, a alegria que estes cachorrinhos oferecem com a espontaneidade inquestionável dos animais, para quem somos deuses, pais, mães, irmãos, amigos e donos, compensando as constantes decepções do dia a dia entre os humanos. É claro que seguidamente são chatinhos, mas não tem preço sentir a imensa alegria com que nos recebem, o carinho com que nos procuram e a dependência com que nos saúdam a cada instante. Mas nossa história canina é ainda maior: há um ano e meio, Andrea, visitando o pai, em Torres, não conseguiu resistir à carência da mãe de Chopinho, Baby, de propriedade da empregada - pelagem detonada, ouvidos infeccionados, já que, por duas vezes (ceguinha pela catarata), caíra no Rio Mampituba, sendo resgatada dois dias depois, num terreno baldio. A casa aqui se transformou, pois, em um canil de luxo, sendo que os três dormem conosco na cama, sempre limpinhos. Quando desço para levar o lixo ao subsolo e logo volto, parece que passei meses em viagem à China, tal a festa que fazem. Baby - grande heroína na luta pela sobrevivência - não consegue ficar um minuto sem minha presença, é um apego indescritível: amor genuíno, por eleição, já que nos conhecemos há menos de dois anos. Ela deve ter 9 anos. É caro? Caro é comprar automóvel zero quilômetro importado ou roupas de grife em lojas badaladas. Não tem preço, minha gente.