PROPINA

No Brasil, assim como em todos os países, há vestígios de corrupção que permeiam muitos segmentos sociais. Os subornos em nosso país são praticados de modo bem enfático; e o que causa mais dor é que tais atos ilícitos não só denigrem a imagem do país e prejudica consideravelmente o seu desenvolvimento, mas deixa exemplos dos mais condenáveis que levam, principalmente os jovens, quando desorientados, a pensar que podem também, quando houver oportunidade, agir da mesma forma sem que ocorra a punição devida, pois esta, em inúmeros casos, ocorre de forma branda, e sem que o infrator receba orientações que possam fazê-lo compreender a gravidade do seu ato e o faça repensar sua vida no afã de voltar a ser um cidadão de bem.

Procurando analisar mais profundamente o que leva alguém a se tornar um corrupto, lembrei-me de que, na minha adolescência, presenciei muitos casos em que várias pessoas eram beneficiadas com carteirinhas estudantis, que lhes davam direito a ingressar em cinemas e outros eventos, sem que essas pessoas fossem estudantes. Isso ocorria, porque, certos funcionários de escolas, designados a fazer o cadastramento dos alunos, não eram fiscalizados a contento e, conscientemente, mas sem pensar nas desastrosas consequências que poderiam advir de sua atitude, favoreciam tanto quanto possível os seus parentes e amigos.

O que também chamava atenção é que esses infratores não eram denunciados, e mais: os beneficiados não se preocupavam em ocultar o caso, pelo contrário, se vangloriavam mostrando as carteirinhas para as pessoas próximas.

Nessa conformidade, outros casos marcam ou marcaram a vida de muitos adolescentes resultando daí, muitos corruptos que assolam principalmente a vida pública brasileira. Trata-se, portanto, de uma cultura antiga, em que os casos como os das carteirinhas, são praticados com normalidade, de forma aparentemente até inocente, mas demasiadamente maléfica à formação do caráter.

Há algumas décadas, foi inevitável para mim ver um comerciante vangloriar-se ao afirmar que, ao ser visitado em seu estabelecimento por um fiscal de higiene, este lhe fez várias exigências. Entretanto, usando de estratégias malandrinhas, confidenciou ao fiscal sobre os motivos pelos quais não poderia cumprir as normas devidas no estabelecimento e lhe ofertou um presente. O fiscal, por sua vez, não só aceitou o presente, mas também cancelou a multa que, fatalmente seria imposta em caso de infringência da lei.

Há outros casos congêneres, e não causa tanta surpresa também sabermos que certos funcionários públicos, ou prestadores de serviços principalmente na área da saúde, procuram beneficiar parentes e amigos, agilizando consultas e cirurgias.

As minhas observações até aqui, se referem apenas a casos graves, mas que, na verdade, pouco significam se comparadas com os subornos que têm assolado o país como um terremoto em larga escala. E isso, em grande parte, é atribuído à ausência dos princípios éticos advindos da infância e maus exemplos vivenciados na adolescência como os citados acima.

Urge, portanto, que os esforços se intensifiquem principalmente por parte dos pais e educadores para que as perspectivas futuras sejam de formação de valores morais e não desses exemplos que horrorizam e nos entorpecem, retardando o progresso da nação e levando-nos a um falso rumo.

Antenor Rosalino
Enviado por Antenor Rosalino em 05/04/2014
Reeditado em 03/07/2014
Código do texto: T4757133
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