DIA DOS BOBOS

Talvez seja certo exagero, mas a data de hoje me trouxe à mente um período de vida, de uns 15 anos atrás, quando eu e uns três ou quatro companheiros de trabalho resolvemos atuar com vigor no mercado de capitais, especulando na compra-e-venda de opções de ações. Sem trava nem nada. Não vou me deter em explicações técnicas, mas uma coisa é você comprar ações, investir em ações, outra é adquirir, em Bolsa de Valores, no caso, São Paulo, opções de compra de ações, apostando, por exemplo, na suba do preço de um papel (blue chip), dentro de determinado prazo: se o preço da ação cair, sua opção de compra pode virar pó, assim como o seu rico dinheirinho. Pois é, salve a data consagrada aos bobos! Passamos uns três anos a levar tombos nesta brincadeira especulativa, ganhando eventualmente pouco e perdendo sistematicamente muito. Mas a adrenalina era poderosa. Lembro que, seguidamente, após ler todos os jornais e informativos econômicos, chegava a casa tarde da noite e ligava a televisão no canal do Bloomberg, sem falar nos telefonemas que trocávamos para debater as perspectivas do mercado, a participação em “chats” especializados e outras ginásticas e peripécias. A aflição das perdas sufocava e é uma lembrança não muito agradável até hoje. Mas não parávamos, sempre na expectativa de uma reação do mercado. Em 11 de setembro de 2001, no terrível atentado às Torres Gêmeas, em Nova York, fiquei duplamente chocado, pois estava com uma posição relativamente forte na Bolsa, que veio abaixo estrepitosamente. É claro, éramos bobos, mas não tanto assim: nossas perdas, apesar de razoáveis, estavam ainda dentro de limites suportáveis e não afetaram nossas vidas de modo significativo. Eu me puni por três anos, restringindo minhas férias a clássicos veraneios em Xangri-lá, sem nenhuma viagem ao exterior: me coloquei, digamos, de castigo, ainda que 25 dias naquele balneário paradisíaco em que tinha minha casa, com empregada destacada na cozinha, não fossem propriamente uma punição. Na verdade, fui um juiz bastante parcial, aliás, fui réu, advogado, promotor e juiz. Por sorte, chegou um dia em que reagimos com energia e abandonamos completamente aquela roda viva de títulos e valores impossíveis. Sou um sobrevivente feliz e acho que não sou mais um bobo, mas não tenho absoluta certeza.