MAIS UM CORPO ARRASTADO NO CHÃO
Depois do menino João Hélio pensei que nunca mais veria cena tão absurda. Engano meu!
Mais um corpo arrastado no chão quente do Rio de Janeiro.
Mulher e mãe. Trabalhadora. Mulher carioca. Na lida do cotidiano: ônibus lotado, fila, empurrão, disse-me-disse, um senão!
Mas ela foi apenas, nesse dia, comprar o pão.
Levou um tiro, sangrou, caiu...
Confusão.
Um achou que era bandido. Outro achou que não. Um disse que era isso. Outro e outros disseram que não. Na reportagem do jornal, os rostos embaçados tentavam achar uma razão.
Mais um corpo arrastado no chão.
Uma viatura que passa na avenida e desfila de porta-malas aberto. Corpo de mulher pendurado e indignação.
Mais um corpo arrastado no chão.
Depois de João Hélio, depois de tanta notícia ruim, depois de barricadas, helicóptero destruído, depois de tanta palavra e depois de tanta manifestação, o Rio nem mais fica boquiaberto com a cena da televisão.
Mais um corpo arrastado no chão!