Apenas um sonho, ou pesadelo?

O ambiente hostil daquele lugar, causava-me um certo receio. Até nem sei como fui parar ali, junto àquela mata, que de virgem não tinha nada. O silêncio então, era assustador. Por mais que eu olhasse em volta, nenhuma alma viva eu avistava, mas mesmo assim, sentia a presença de alguém, alguém que parecia estar a me espionar. Eu ali temerosa, não tinha outra opção, a não ser continuar a caminhar.

Olhei para o alto, e mesmo assim não consegui ver nunhuma claridade maior, até o sol parecia ter de mim se esquecido. O estranho era que, apesar da mata bastante fechada, ali havia uma estrada. Quer dizer, não sei se posso de estrada chamar, uma vez que era bem estreita, íngreme e mal cuidada. Além disso, era curvilínea, cujas laterais eram formadas, do meu lado direito, por um morro que parecia querer cair sobre mim; do meu lado esquerdo, um precipício.

Enquanto eu caminhava, pude ver que antes do precipício havia ralos capins irregulares, que teimavam em ali crescer, até umas flores estranhas, minguadas, ali também avistei. Acompanhando a linha do precipício, duas fileiras de pedras de alicerce. Nada mais era, do que um longo muro ali propositadamente construído. Ao ver aquilo, fiquei-me perguntando: porquê tão baixo? Pensando nisso, avizinhei-me do precipício, e com cuidado, coloquei um pé em cima do muro e com o outro, amassei mais alguns capins, dobrei meu corpo e estiquei o pescoço para tentar ver lá em baixo, mas logo o recolhi, e com ele meu corpo retornou à posição anterior, pois sabia muito bem que lá nas profundezas a morte com certeza aguardava.

Apesar de retomar a caminhada com rapidez e anciosa em ver-me longe dali o quanto antes, fiquei pensando o porquê de tudo aquilo, por que eu fui parar ali, devia haver uma explicação. Aquele lugar parecia ser um cenário perfeito para um filme de terror. Por que eu, no meio daquele lugar tão frio e sinistro? Será que fazia parte do meio destino? Enfim, a ventania repentina, fez-me ver que o que eu precisava fazer era apressar ainda mais o passo, sair o quanto antes dali, mas por mais que eu caminhava, não avistava luz no fundo do túnel. Isso mesmo, parecia ser uma espécie de túnel, mas não um túnel de volta ao passado e muito menos me levava para o futuro. Quanto mais eu andava, mais na mata eu entrava. Havia-me enganado, pois para dali sair, devia ter ido na direção oposta. Isso vim a constatar porque de longe acabei avistando que a maldita estrada, literalmente era um beco sem saída. Nao tinha nenhum desvio, nenhum atalho à minha frente, só mato!

Ali eu parei e olhei à minha volta. Foi então que vi uma casa em madeira, toda fechada parecendo abandonada há muito tempo. Ao lado desta, logo adiante, encravada junto ao morro, num canto à direita,outra casa. Mas quando a quis observar em seus maiores detalhes,ouço e vejo dois cães latindo para mim. Até então não os havia percebido. Latiam eles adoidados, parecendo terem muita gana para me pegar.Para sorte minha, os dois estavam presos numa árvore cujo tronco parecia ter mais de um metro de diâmetro. Presos bem em frente da casa que me causou arrepios. Outra vez olhei em volta, procurando socorro, querendo encontrar alguém, alguém em quem pudese confiar, que dali pudesse me tirar rapidamente, mas nada, apenas eles, os cães. Os cães que continuavam a latir ferozmente, loucos para se soltar e irem em meu encalço. Pensei que se eles me pegassem eu seria ali mesmo estraçalhada. Apesar deles presos, apavorada, iniciei uma corrida em disparada rua abaixo. Enquanto corria,continuei ouvindo os dois cães latindo sem parar. Aquele um, o maior, parecia ter uma juba feito leão, só que o pêlo era da cor preta e marrom, bem mais preto do que marrom. Do outro não me recordo, mas imagino que tenha sido coadjuvante do primeiro. Do primeiro que parecia ser o dono daquele lugar horrendo.

Continuei correndo sem parar, quando vi que já estava bem longe daqueles cães, já bem cansada também, fui obrigada a caminhar. Assim eu continuei, porque meu fôlego não mais aguentava. De repente, algo me fez olhar para trás e percebi então outro cão, mas não era nenhum parecido com os daquela casa, mas sim, veio correndo para mim um outro cachorro, na verdade, um cãozinho. Apesar disso, eu reuní minhas últimas forças e desatei a correr em disparada, mas quando iniciei a corrida, o cachorinho parou. Sem saber o que fazer, eu também parei. Ele veio então correndo devagarinho, abanando o rabinho. Logo em seguida, alguém que parecia ser seu dono, porque o senhor o chamou e ele obedeceu, foi ao seu encontro. O homem de longe disse que era o guarda florestal e perguntou se eu estava perdida. Enquanto tentei responder, meu coração começou a pular de alegria e de alívio, e eu apenas consegui balbuciar, estou...

Foi nesse momento que no meio da mata penetraram raios de sol. Consegui enfim, ver a claridade do dia, avistei o azul do céu, senti o perfume da mata viçosa, ouvi o canto dos pássaros, o gostoso borbulho do riacho, o perfume da flor. E foi com aqueles raios de luz e de vida que eu acordei. Acordei feliz.