O SUMIÇO DO AVIÃO
Sumiu o avião. A esperança está em xeque. Infeliz do ser humano que não consegue ter o olhar ao alcance das coisas. Infelizes são as coisas que não se atêm ao olhar humano. Aquilo em que não me percebo não me tem significado. Aquilo que não vejo, não existe. Infeliz a humanidade: pois confia exclusivamente no que vê.
Havia radar além do alcance? Há possibilidade via satélite? Quantos céus há entre o chão e o acaso? Quem propõe a filosofia aberta aos olhos dos homens, esses que nem a si conseguem ver? Para toda boa pergunta deveria outra boa resposta. A esperança, então, não está onde não vemos: mas apenas na lógica que criamos, e se a criamos, obedecemos.
O primeiro cego foi um barco abandonado. Encontrou a ilha: fundou a esperança. O segundo visionário sempre estará a uma geração de distância do primeiro: e ambos inventaram a concorrência. O oitavo tolo, de uma família de sete, percebido do que nunca foi possível, proclamou a liberdade. E ainda estamos humanos, mas, dessa vez, fica claro: é da boca pra fora.
Entendida a história do mundo, restar-nos-á saber: em qual mundo está o avião? Espaço, tempo, massa e energia – o que conhecemos de nós mesmos pode estar nos mares subterrâneos, o que podemos de nós mesmos está nos ímpares que não enxergados, o que seremos de nós mesmos será um conto a ser contado aos nossos antepassados.
Falaram nos ETs (por que não?). Pode ser o oceano extenso (pois, não?), pode ser a rota demudada (talvez), pode ser que a ilha do primeiro cego tenha um honesto aeroporto. Aí sim mora a esperança. Nas chances que não temos, nas possibilidades que não vemos, na matemática que não contamos. O sumiço do avião intriga mais do que as duzentas e tantas vidas.
Não as podíamos ver. E se não vemos, não sabemos. E quando não sabemos nos perdemos. De nós e dos que são conosco. Ver para crer é uma forma inconsciente de dizermos que a fé está em nós, mas não nas coisas. E se a minha referência sou eu mesmo, e ao olhar para cima vejo o céu tão evidente, declaro que nem avião havia. E o que interessa é olhar pra frente.