BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS

Quanto às biografias não autorizadas, permito-me ponderar o que segue, neste breve comentário, que já publiquei no Facebook. A liberdade de pensamento e expressão é fundamental à vida democrática e ao correto convívio humano, sem dúvida, ninguém discute. A liberdade de imprensa é pilar da Democracia. Agora, uma coisa é eu dizer que penso assim ou assado, gosto disto e não gosto daquilo, outra coisa é eu me apropriar comercialmente de conteúdos da privacidade ou da intimidade alheia, como a feitura, edição e venda de uma biografia, de uma história de vida, sem autorização. Talvez fosse aceitável biografar livremente agentes políticos ou celebridades, que se nutrem da mídia e do apoio popular, cuja vida é pública e tem de ser transparente, mas sem invasão da privacidade básica, pois o direito à intimidade é um direito sagrado de preservação do indivíduo perante o Estado, uma árdua conquista histórica frente ao Estado Absoluto ou aos regimes coletivistas totalitários, que sempre procuraram anular as liberdades e os direitos individuais mais elementares. Jamais o interesse público pode ser bandeira para a nulificação do homem, enquanto indivíduo, único e insubstituível. São valores fundamentais, desde a Revolução Francesa, dos Direitos do Homem e do Cidadão da ONU, passando pelas principais Encíclicas Papais. A questão fica ainda mais séria em tempos de monitoramento eletrônico de dados, pois esta era cibernética nos expõe à espionagem e ao controle à distância, imenso risco à democracia, como os últimos episódios atribuídos ao Governo Obama, relativamente a pessoas e governos. É preciso alguma cautela com essa “ânsia” de transparência que a mídia propõe, senão, em breve, a integridade individual poderá ser destruída, dilacerada ou gravemente comprometida. Sim, a matéria é polêmica; no caso, são, de algum modo, direitos em face de direitos, mas o interesse publico não suplanta os direitos e garantias individuais plasmados ao longo da História e consagrados pelo Constitucionalismo mais democrático e moderno. Assistam ao Big Brother, se for o caso, mas respeitem a pessoa humana.