O AMOR DE MULHER

O amor que há em uma mulher é único. Capaz de captá-lo será aquele capaz de ser um. Apenas. O amor da mulher se interessa por quem é de um amor só. Embora haja em mim o asco em escolher o gênero generalizado – esta é assim, aquele é assado – venho-me obrigado, por decorrentes os anos como são, a aceitar que o amor–mulher existe, e difere-se radicalmente do mulher–amor, do que os princípios reais nos contam através das fadas, diferente demais também daquilo que os homens pensam. A propósito, em oposição ao amor–mulher, há uma concepção masculina acerca do assunto. De cada homem: para todas as mulheres.

Primeiro, a não generalização: se lhe puxa a cadeira e estende a mão, cavalheirismo se faz à mesa; abrir a porta do automóvel, idem, à mesa ou não, seja sorriso de conquista, seja jantar ou passeio, buquê, roteiros e afins. Todo cavalheirismo é um modo de postura, todo cavalheiro comporta-se assim. O comportamento é um estado. Reservo-me, então, a dizer que não há o cavalheiro, mas a situação cavalheira. Depende do prato, depende dos fatos, depende das intenções. A satisfação nos fez cavalheiros: e o que, portanto, nos faz?

Segundo: observo um sutil casal que nem sempre a si sorri, mas ali está ali, aquele dom de estar ali, junto, unido, almoço a almoço. Sofrimento o meu ser este o único restaurante da região desde sempre, mas o casal ali está há mais de trinta anos, isso eu posso atestar! Aquilo que põe então o tom naquele homem, senão o talento em pertencer a uma só. Que faz nela o desejo de ser única, logicamente, além da educação que disciplina as mulheres a isso? Mas, agora, não virá ao caso. Quanto ao casal, isso o coloca em posição de homem atraente, garante a moça do caixa que certamente trinta anos atrás nem ainda havia sido feita.

Entendo que entender, em assuntos de observação comum a todo mundo, é apenas pretensão. Mas, o que pretender, sem nem entender? Apenas a conclusão: futuramente, o amor não prende mais. O costume sim. Perfeitamente, amores se constroem no futuro. Erroneamente, pretendemos o amor agora: aí sim mora a inócua pretensão. Amor urgente é sem razão!

Terceiro: claro que o amor aqui se diz por gênero – óbvio pacífico. Dela e dele. No reino da cobiça, o homem livre é o homem atraente. Medidas incompletas mostram que a mulher pretende a liberdade na companhia. Talvez falamos dos mesmos charmes ou das mesmíssimas atrações. Porém, quem saberá de si mesmo, quando o assunto é uma incentivadora de equívoco, justamente por quem garante nos ter amor pleno? Na plenitude. Amar é errar: quem duvida?

Ocorre que o grande poder de um homem não parece estar no gênero, mas sim, na sua capacidade de oferecer-se a conquistar a sua companheira, cotidianamente. Como nos garante o senso comum – a derrotar outro senso comum. É como se nela – na companheira – ele espelhasse um poder de conquista irresistível. E indicasse possuir um charme único.

Às vezes o senso comum nos surpreende. Às vezes não.

Fato é que qualquer generalização confunde. E limita.

Menos quando se quer conquistar o amor de uma mulher. Basta ser um, aprender a ser um. E não, necessariamente, único.