SÁBADO DE CARNAVAL

Tem muita gente que adora o carnaval, inclusive os que vivem dele e por ele. Acho legal, como acontece com o futebol, por exemplo. O carnaval virou cartão postal do país, ainda que, por estas bandas, a tradição não seja muito arraigada. Aliás, como o futebol, o carnaval tornou-se uma grande indústria. Para mim, carnaval foi uma coisa até certa idade, até o casamento, digamos, depois, basicamente, virou mais um feriadão, como já foi a Páscoa e sempre grande alegria para compartilhar com os filhos pequenos. Mas o que incomoda um pouco neste período - para aqueles que não são visceralmente carnavalescos - é a obrigatoriedade da folia, da gandaia, do jeito livre, leve e solto. Parece que a Constituição Brasileira impõe uma nova ordem nos quatro dias momescos, pelo menos é assim que percebo o clima frouxo no rosto, nas expectativas das pessoas, dos animais e das coisas: sim, até os seres inanimados, que o comércio ornamenta, estão dispostos com um jeito que convida à folia. Faz parte, mas eu me incluo fora desta. Não tenho a mesma reação quando se trata de Natal ou Páscoa, mas confesso que estou me sentindo de outro planeta, talvez seja a idade, talvez um excesso de senso crítico, talvez pelas circunstâncias. Minha mulher está dormindo no hospital, acompanhando a mãe, cujo estado não se alterou desde o problema na praia, filhos e netos curtindo o que é possível aproveitar no litoral. Estou, inevitavelmente, aqui, na Porto Alegre tranquila, com os cachorrinhos e o enteado Gabriel, como guardião do lar e conciliador dos meus dilemas e ideias. Para escrever, não preciso de feriados, mas o carnaval realmente inspira a individualidade, a liberdade de ser diferente e o nadar de poncho contra a maré. Sou uma pessoa otimista, o carnaval estimula o pensamento positivo, portanto acredito que tudo marcha numa boa e, mesmo sem máscara, confete ou serpentina, sintonizo com os foliões de todos os quadrantes, tomando meu vinho e escrevendo meus textos desengonçados.