PERIGOS DO DESBUNDE
Claro que é bom ser amigo de rico, especialmente nos seus bons momentos de lazer, glamour e fruição. Não falo aqui daqueles que têm laços estreitos de parentesco e longas, sólidas amizades, mas dos que têm certo fascínio por quem ostenta poder material. Rico, neste enfoque, é quem ganha, pelo menos, um milhão de reais por ano - para a gente ter uma certa noção de grandeza - mas, geralmente, quando é bem rico, ganha bastante mais. O amigo de rico de que cogito aqui ganha muito, muito menos: é o chamado piolho de rico, um desbundado, deslumbrado, siderado ou como quiserem chamar. Tem muita gente assim, que, a rigor, não prejudica ninguém e que apenas coloca sua vida a reboque, perdendo tempo e espaço. É uma questão elementar de valores. Não de valores econômicos. Ao menos para quem acredita que a vida não se mede por cifrões. Se for por mera e eventual diversão, tudo bem, faz parte, como já disse, é bom ser amigo de quem pode e arrebenta, o problema exsurge quando este deslumbramento apequena a alma, embotando a mente. Lembram de Fernando Pessoa, “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”? Pois é, quando a volúpia descontrola, emerge o risco da submissão quase servil aos interesses maiores, do sonho impossível ou de enorme sacrifício, da vida artificial, espraiando-se, não raro, a todos os campos de atividade, inclusive política. Vende-se a alma para o Diabo, dilui-se a capacidade crítica e, sobretudo, o ímpeto natural para trabalho comum, do real tamanho de cada um, que pavimenta o amanhã. Havia um programa de humor na televisão, nos idos tempos, em que o bordão era “Homem de gravata, eu respeito.” É como, hoje em dia, cultivar disfarçada admiração por quem mete a mão no dinheiro público e se livra pagando os melhores advogados, preservando a mansão para festas de arromba, o iate, o jatinho, a fazenda ou simplesmente o champanhe, o caviar; quando é personagem da mídia, mata a pau, especialmente ostentando belíssima mulher para emoldurar ou emprestar glamour ao seu suposto poder. Prestem atenção, muita atenção, nos que se movimentam ao redor: os muito “metidos” podem ser de algum modo perigosos, direta ou indiretamente. Candidatos políticos, então, seja onde for, é "chose de loque". O Donald Trump da terra dos "winners" e "losers" é um exemplo tragicômico. Bons amigos, dificilmente; governantes, estou mais para um "modelo Obama".