Doença
Ainda que meio perdido no molho de chaves; entro pela porta sorrateiro; coloco as folhas para o chá em cima da pia; a quantidade de pernilongos no ar era absurda; não digo nada; só observo; a minha direita um quadro torto na parede me incomoda; passo direto pela sala; a fonte d'água na estante rompia o silêncio que era ensurdecedor; já no quarto; incenso de canela defumava o recinto; em clima de luz negra e fumaça perfumada; me deito; busco o repouso dos olhos; o sonoro do Rolex me desperta; lembro-me que é hora do remédio; a cansaço pesa sobre mim como uma bigorna; as dores fazem com que o corpo implore pelo veneno; me levanto lentamente com esforço: vou ao fogão; ponho a chaleira com água para ferver;sento-me na cadeira que range no mesmo tom que minha coluna; olho ao redor; aquele quadro ainda era um incomodo; o vapor da ebulição já embaçava meus oculos; abro o armario em busca da minha caneca predileta; em vão; lembrei-me que a havia quebrado na nossa ultima discussão; apanho apenas um sachê de chá instantâneo; o coloco em um copo qualquer junto a água fervente; mesmo sem o adoçar ou ao menos esfriar; em uma golada só o tomo; sinto o rasgar da garganta enquanto o comprimido desce lentamente; que agonia; um leve sorriso se esvai do meu rosto; bobo; rindo de mim mesmo; rindo da descrença pela Medicina; não sei o porque de Eu ainda tomar os remedios nos horários certos; o acender dos incensos para afastar os pernilongos; a escuridão da casa vazia; da mania pelo silêncio;
até meu transtorno obsessivo compulsivo pela simetria já não me tolera; ninguem me espera por chegar; apenas o anjo da morte que pousa sobre mim quando me deito; na expectativa de que Eu nunca mais levante; no estado terminal que me encontro; nem mesmo a Morfina aliviaria as dores da alma;
Já perdi tudo o que tinha; sobrou apenas as coisas as quais só Eu me importo; não levo mais a porra dessa vida a sério; alias; não vou sair dela vivo;
Wasabe