CORAÇÃO ANTI-JOGO

Quando saio de um jogo, isso não quer dizer que o faço porque perderia ou finalmente percebi que se trata de um jogo. Saio porque sou anti-jogo, e tentava crer que não se tratasse de mais um. De certo modo, minh´alma sempre sabia que tudo se armara em silêncio, por eu ter sobre o rosto esses traços constantes de sudário.

Mas quem achar mesmo que sou a forma genérica do Cristo e propuser um calvário à expressão serena e passiva que lhe soa sombria, ficará sem ação logo depois. Bastará que puxe o meu fichário íntimo, e poderá descobrir uma pessoa que sabe a que veio. Alguém que vê a luz do dia e tem certeza dos próprios passos. Um coração que dispensa trunfos, porque acredita na transparência.

Ninguém há de cegar, em tempo algum, estes meus olhos atentos às rotações e translações do mundo. Sempre fixos nas mudanças dos ventos e os desempenhos de gentes. Este olhar de quem já entendeu faz tempo, seu papel nesta vida. Ou mais do que um papel, já entendeu sua resma e não dispensa o calhamaço. Levará tal script até o fim da novela que não é novela.

Foram tantos os jogos e muitos os blefes, que não há mais segredo em modalidade alguma, para o meu poder de percepção. Sendo assim, quem quiser me seduzir, que o faça logo. Não faça lobby antes disso. Jogar comigo é jogar sozinha e perder para si mesma. Quero a força de sua sedução, mas não em forma de jogo, e sim, em suas formas tocáveis.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 07/02/2014
Reeditado em 07/02/2014
Código do texto: T4681632
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