Murmúrio

As bocas já não falam o que deveriam. Não por motivo de gosto, mas por motivo de senso. Aqueles que antes faziam barulho, hoje são completo silêncio. Alguns, por semear o caos de palavras. Eu, por recusar acatá-las. Não por rebeldia, garanto ao leitor. Mas por ser em meio à mínima sobriedade, uma suficiente consciência. Que tenho. Que sou. Aquelas que viviam presas em bocas, hoje se libertam para alcançarem o pior destino que existe: uma boca sem lábios. Concreta de conversas que saciam a pura ignorância de rejeitar o mais puro fruto da boca, da vida. A palavra. Que me concede, nesse único momento de lucidez, a honra de ainda tê-la, e, mais ainda, de escrevê-la. De embelezá-la. E que me faz totalmente capaz de, mesmo cercado de tanta indiferença, ser um louco pensante. Capaz de estar no universo e não ser universo. Então sento. Penso. Ouço. Ruídos desse mundo que ansiando falar, acaba por não dizer nada. Mas não ligo. Afinal, sou palavra. E na oportunidade de ser desagradável barulho, escolho o silêncio a fim de também, ser recluso poeta.