GRANDES CÉREBROS

Em 09 de novembro de 1985, Kasparov, aos 22 anos e, depois, ativista político dedicado a combater Putin, arrebatou o título de campeão mundial de jogo de xadrez do até então imbatível Karpov, que o detinha desde 1975, por desistência de Bob Fischer. Eram ambos nascidos na antiga URSS. Karpov era membro do Partido Comunista Soviético e, portanto, o preferido dos burocratas de Moscou. Kasparov, anticomunista, era, de certo modo, um dissidente que desfrutava da simpatia do Ocidente. É preciso lembrar que, na época, o campeonato mundial de xadrez era um acontecimento empolgante e que, salvo Bob Fischer em 1972, desde o final dos anos 30, todos os grandes campeões eram egressos da hoje extinta União Soviética. Pois bem, a disputa entre Karpov e Kasparov teve início em 1984 e só findou em 1985, com a vitória sensacional do jovem desafiante. Interessante notar que, também em 1985, inaugurava-se um novo tempo naquele país, com a ascensão ao poder de Mikhail Gorbatchev e seus programas políticos de "perestroika" e "glasnost" (reestruturação e transparência). A disputa entre os dois mestres enxadristas foi mais um episódio interessante da "guerra fria", especialmente porque o xadrez contava com forte respaldo do regime comunista, que dele fazia um instrumento eficiente de propaganda. Lembro de acompanhar atentamente pelo noticiário da imprensa escrita a evolução e os detalhes daqueles embates empolgantes. Os soviéticos nunca digeriram muito bem a vitória de Kasparov. Aliás, em meados da década de 90, a IBM criou o supercomputador Deep Blue e patrocinou um desafio: em partidas acirradas, Kasparov acabou perdendo para a máquina colossal, embora tendo vencido e empatado alguns jogos. Foi o grande feito enxadrístico do Ocidente contra aquele soviético brilhante, mas a "guerra fria" já havia acabado há algum tempo. Hoje, o grande nome é o do enxadrista norueguês Magnus Carlsen, campeão mundial desde 2013 aos 22 anos, e tido como fenômeno. Aprendi a jogar xadrez muito novo, mas não tinha paciência ou nervos de aço para tornar-me um bom jogador. Gostava de reproduzir no tabuleiro movimentos de disputas dos grandes campeões, apreciando lances cerebrais extraordinários. Meu pai jogava muito bem e, por tudo isto, ensinei meu filho na tenra idade, e ele, volta e meia, jogava comigo e geralmente ganhava, assim como também jogava eventualmente com os avós, só não ganhava geralmente de meu pai. Hoje em dia, histórias assim não despertam quase nenhum interesse e os jovens raramente conseguem largar o PC, a não ser pelo futebol, o que já é uma grande coisa.