Quinta-Feira

Vivo o que de melhor foi dado a mim. Culpo-me, por perceber que não mereço o melhor. Culpo-me, por saber que não preciso do melhor. Pois aquilo que foi dado a mim já é coisa gasta, sem importância. Coisa fraca, pior instância de vida qualquer do mundo. Coisa minha, coisa dada, coisa usada. Que mereço. Não por ser forte, não por ser fraco. Não por ser pecador maior, de fato. Mas por ser merecedor de dor. Merecedor de amor. Que de fraco, só tem nome. Que de fraco, só tem eu. Que insisto em ser ausente de tudo, enquanto sou cercado de pessoas que rejeitam meu nada. De anjo tenho só nome. De gente tenho só jeito. Da fraqueza que me consome, sou ser pecador que insiste no erro. Expulso as palavras, em seguida os pensamentos. Aquieto minha alma, enquanto saio de meu vão momento. Com a calma de um experiente, sento-me à cadeira esperando a justiça – tão doce justiça – de alguém que se assemelha a ser. Pessoa. Justiça. Acato e me recato num fundo buraco, cercado por ar que nem mesmo conseguirei respirar por completo. Aprecio meu cubículo, triste, vazio, preenchido de pessoas ocas protegidas por um teto. Ocupando um simples espaço, num espaço do universo que não chegarei a compreender nem mesmo metade de sua completude. Vivo na tristeza de ser um simples nada. Vivo conformado de ser um perfeito paradoxo. Vivo esperançoso de conseguir ser - nessa ausência de ser - um ser. Completo. Humano.