UMA PÁGINA
Encontrei um modo profundamente lírico de dizer o que sinto sem ofender. Simples como a surdez dos anos vingativos. Calei diante o gesto de repreensão que a mim bastou-me, e contarei dizeres mudos a quem atenta por parcimônia. A espera dos velhinhos possui a sensualidade de uma fada. O calabouço dos velinhos está na porta dos sorrisos. O sonho de um velhinho é estar. Observarei os anos oitenta em qualquer tipo que me venha encaixar modernidade óbvia; vier-me então com as dívidas do futuro, ausentar-me-ei de vez!
Entenda: o meu negócio é sem ofensas.
O céu, o véu. O sangue. Quem de nós precisa ser tão caprichoso com a verdade? Faz-me crer novamente, pois a verdade é um hábito! Saúdam-nos todos os de livre coração, já que não há sensatez em cabeças vazias; destacam-se os indivíduos de boa ventura – aqueles que queremos em nossos mundos; esqueçam-nos os que não praticam a vida. Haverá mar morto no século que vem? Onde estarão as horas quando conto a dedo e você não chega? Assim espero que nos seja o destino: repleto de baleias brancas no mar que irá nascer. A cor dos pensamentos possui algum sentido; ou fossem baleias outras e o oceano estaria perdido? Há muitas dúvidas, atingi a idade na qual as respostas formulam perguntas. Deve ser um ócio que só alguém tão preso à modernidade, o ser exato não está em tempo algum. Geralmente quem é totalmente hoje pratica os preconceitos de ontem, normalmente aquele que roga contemporaneidade não se encontrou com o passado, comumente um gesto já nos põe além do nosso tempo. Quantos de seus amigos se dizem vanguardistas? Das amigas, quais se miram em Leila Diniz ou se inspiram em Brigitte Bardot? – alguém aí descobriu Búzios? Mas é ponto pacífico que há genialidade presumida em quem muda as teclas do telefone. Como se um talento fosse só talento e por conta disso escanteasse outro. Como se a adaptação fosse descoberta e a descoberta fosse invenção. Não me incomoda o presente. Fascinam-me mais o passado e o futuro, mas é o presente que distingue o viver do existir. O viver não fascina e o existir engana. Mas apenas quem está é que sabe guardar o fascínio dos dias improváveis: mora aí a diferença.
Coloque isso tudo dentro de sua compreensão, eis o que se passa em um minuto na cabeça de quem tem pavor de voar quando o inevitável o coloca na barriga de um avião.
Um minuto.
Quase isso.