Ser feliz é sentir-se útil
Ser feliz é sentir-se útil
Estava varrendo a calçada, quando se aproximou um adolescente magrinho que de modo simples e sem afetação, pediu-me um lanche, pois, segundo ele, não tinha comido nada, ainda, e estava com fome.
Era quinta feira, um dia depois do natal, havia passado a noite na rua.
Larguei a vassoura no chão e fui preparar-lhe um lanche. Havia muitas sobras da festa e eu caprichei num sanduíche e peguei uma fruta. Ao retornar à rua, reparei as folhas secas que a chuva da noite tinha derrubado, tinham sido ajuntadas em montinhos; enquanto eu lhe preparava o lanche, ele tinha varrido toda a rua em frente à minha casa, para mim. Demonstrando, com isso, ser um menino prestimoso, e grato.
EU que sempre sonhei ter vida de madame que não faz calos na mão varrendo a rua após um dia de chuva, pensei: “se eu não tivesse ido varrer a calçada, não teria visto o menino, só e com fome; não teria compartilhado o pão, nem participado da vida”.
Trancafiada no castelo do meu conforto, como a bela adormecida, como participar da vida?
Além das muralhas dos castelos de nossas indiferenças, está o mundo; o necessitado, o indigente, o abandonado, estão nas ruas, lembro-me de uma escritora que confessou que andava de ônibus de vez em quando, para não se esquecer do mundo. Segundo ela, “ É nas rodoviárias e estações, no mundo das ruas que podemos ver o necessitado.
Como ser feliz sem varrer as calçadas de minha consciência?