A Difícil Arte De Amar O Outro Como A Si Mesmo
Ninguém nunca disse que ensinar é fácil. Mas também ninguém disse que seria tão difícil. Às vezes, para ser um bom professor, é preciso fazer ‘’malabarismos’’. Se doar por inteiro. Saber que estamos sujeitos à crítica e mesmo assim temos que mostrar que estamos de pé, prontos para mais uma jornada de trabalho. Na escola aprendemos de tudo: a contar, ler, escrever, brincar... Mas parece que todo mundo se esquece do principal: amar o próximo como a ti mesmo.
Rubem Alves costuma dizer que a principal função da escola é dar prazer. Se o aluno não sente prazer em estudar, que motivação o terá para ir à escola? A não ser uma distração, ficar batendo papo à toa para esquecer-se dos conflitos em casa. Bem sabemos que a maioria das crianças que frequentam a escola pública sofre com algum tipo de problema familiar. Muitas vezes nem os próprios pais reconhecem o problema. No fundo, os alunos só querem mesmo uma fuga e um tempo sozinho dessas ''crises''.
A falta de diálogo e de cuidado com que tratam assuntos como separação, alcoolismo, drogas, violência, entre outros, faz com que tudo recaia em cima da escola, como se só ela fosse capaz de resolver o problema. Mal sabem as pessoas que enquanto não houver uma boa relação entre família, comunidade e escola, os problemas passarão de um lado para outro como uma bola procurando sempre o ‘’dono’’ da vez. Em outras palavras, procurando sempre um culpado para se livrar da responsabilidade pessoal.
Se a criança ou adolescente está grávida, a culpa é dela por não ter se prevenido. Se o filho se droga é uma marginal que dever ser preso por ‘’incentivar’’ outros usuários. Se um jovem rouba a mão armada deve ser morto, para evitar que faça novas vítimas. Se há mendigo nas ruas é preciso ficar atento e tentar buscar meios que os expulsam das calçadas. Se uma jovem foi estuprada é porque não soube se comportar. E assim, os problemas vão sendo ‘’resolvidos’’, como se a responsabilidade não fosse de ninguém, nem do governo e nem da sociedade.
Enquanto isso grande parte das pessoas é a favor da maioridade penal, acreditando que e assim resolverá ou irá diminuir o problema da violência. O que muito pelo contrário, só aumentará as preocupações. Pois, já se sabe que os presídios estão cada vez mais lotados. Não há lugar para dormir, tomar um banho, se alimentar bem (embora alguns tendessem a dizer que a comida é de qualidade), não há espaço para lazer ou atividades que possam ser produtivas para manter a sanidade mental daqueles que vivem nesse ‘’matadouro’’.
Por isso reflito sobre o papel da escola atual. Pois ela pode até transformar sujeitos em cidadãos críticos e reflexivos. Mas pouco consegue fazer para transformar seres individuais e competitivos em colaboradores. As amizades estão quase todas fragmentadas por grupos. Na maioria das vezes as escolhas por eles são feitas com base no que o outro tem pra oferecer. Se não tenho um celular bacana ou não me destaco na escola, menos chance tenho de ser aceito.
Concordo com o Rubem Alves, quando diz que é preciso instigar o prazer e curiosidade do aluno pela escola, especialmente pelo estudo. Mas acrescento que isso só não basta. É preciso instigar a criança e o jovem o prazer de também se relacionar com o outro. Para amar o outro é preciso amar a si mesmo. Se na escola o sistema de ensino tende a mostrar um ser mais competitivo, principalmente para o mercado de trabalho, como querer que o espírito de solidariedade permaneça nos trabalhos em grupo?
A falta de um ''bom dia'' , um aperto de mão ou um abraço entre as pessoas que me deparo no dia a dia só me faz crer que a educação tem tornado as pessoas mais competitivas, mais centradas em si mesmas. As pessoas estão deixando de sensibilizar mais com o outro e com o mundo ao redor e tornando mais sensíveis consigo mesmas.