FILHOS...MELHOR NÃO TÊ-LOS?

No século passado, havia, para o homem, a ideia dominante de que o sexo era absolutamente livre: muitos e muitos filhos, filhos bastardos, adulterinos, naturais, sem grandes responsabilidades com relação à prole que se multiplicava; as mulheres, passivas e socialmente reprimidas, eram parideiras, no regaço prisioneiro da família patriarcal. Mas havia hierarquia, disciplina e respeito, especialmente pela influência da religião, seja ela qual fosse, notadamente a católica. Com o progresso econômico, tecnológico e a evolução cultural, a prática sexual abusiva começou a enfrentar as grandes pragas, muito mais deletérias que as gonorreias clássicas, como a herpes e a aids - que surgiu devastadora, como terrível cavaleiro apocalíptico. Por outro lado, além do espectro da aids, as dificuldades econômicas, a emancipação feminina, a camisinha, a pílula e a nascente sociedade de consumo de massa estabeleceram um novo padrão sexual bem mais seletivo e cuidadoso, sobretudo para os homens. As mulheres passaram também a ter poder e influência, desde o voto feminino de 1932, no Brasil, a valorizar a sua liberdade, seus direitos cívicos, sua felicidade como fêmeas e o seu destino como seres pensantes e líderes de um tempo novo. As famílias tornaram-se menores, menos filhos, casamentos em idades mais amadurecidas, divisões de tarefas, gestão compartilhada. Tudo muito bom, mas, a partir daí, surge um novo pecado capital no seio de muitas unidades familiares modernas: a angústia pela felicidade dos poucos filhos. Quase como uma culpa – um pecado original -, os pais de hoje acham-se no dever de suprir absolutamente os filhos, proporcionando-lhes tudo e mais um pouco para aplacar uma inexplicável dor na consciência ou frustração, ora atribuída a isto, ora àquilo. Na geração de meu pai, era proibido o olho no olho com o genitor, o pai falava e o garoto baixava a cabeça. Uma tristeza. Atualmente, qualquer pirralho esbraveja, agride, faz manha, grita, se joga no chão e diz palavrões para alguns pais aturdidos e inermes. E ainda recebe agrados. Espantoso. Rebenque, cinto ou o velho e sempre útil chinelo para bater nas pernas do filho é capaz de dar em Conselho Tutelar ou coisa do gênero, inclusive por que, em toda esta transformação, revelaram-se, também, certos pais despreparados e brutais, quando não criminosos. O que está certo, o que está errado? Creio que deva haver equilíbrio, nem tanto ao mar, nem tanto à terra: o império dos filhos é tão absurdo e deletério quanto sua completa e sofrida submissão de outrora, quando reinavam os pais, às vezes de modo frio, implacável, excessivamente autoritário. O importante é que se compreenda este balanço da história humana para entender o passado, o que está acontecendo agora e o que pode ocorrer amanhã. É difícil acertar a mão, pois cada filho tem uma personalidade, um jeito próprio de ser, exigindo muito discernimento e sensibilidade dos pais verdadeiramente responsáveis. Ser pai, ou mãe, é tarefa de gigante. Não basta casa, comida, roupa de grife lavada e alguns mimos. Também não adianta fazer discurso veemente e depois virar as costas. São necessários apoio, acompanhamento constante, abnegação, diálogo e jogo duro na hora certa, o que às vezes não é fácil para quem tem a responsabilidade de educar. Se você não tem vocação ou quer levar uma vida mais "light", por favor, use sempre a camisinha. O grande Vinícius de Morais, em seu Poema Enjoadinho, começou versejando que "Filhos...filhos? Melhor não tê-los!", para acabar sentenciando magnificamente: "Que coisa linda que os filhos são!".