Casamento

(Em um desses mundos loucos...)

“Sim, eu aceito.” E antes da resposta de sua companheira levantou subitamente da cadeira e a beijou com todas as forças que seus lábios possuíam. Nunca antes tinha beijado com tanta força e desejo, pois guardara aquele momento para ela. Sua atitude audaciosa era extremamente justificável: já sabia a resposta da amada. Afinal, dentre aqueles dois apaixonados ela era a mais amante. Por fraqueza, ele já a havia traído e até mesmo a abandonara algumas vezes antes. Entretanto, a fiel apaixonada sempre disposta a tê-lo de volta, o encontrava e o fazia novamente se entregar a ela (creio que às más escolhas de moça do inocente homem tenham corroborado também para este fato). De qualquer forma, fosse por teimosia dela, ou ingenuidade dele, estavam agora unidos. E na mais pura das fidelidades jurava agora amor eterno, prometendo resistir até o esgotamento de suas forças à tentadora folha de papel em branco. E então quisera selar aquele momento com um brinde. Mesmo estando eles sozinhos em casa, os mais insanos que passassem por ali viriam uma imagem perturbadora: um louco, brindando ao vento e sorrindo para o nada. Mas somente os olhos mais sensatos desse mundo conseguiriam ver o que se passava. O boêmio homem agora já era homem boêmio. O que era Cândido, agora era otimismo. E colocando a aliança em sua companheira, eternizava o mais lindo momento de sua vida: casara-se com a infelicidade.