UMA FUGA PARA O MAR
Num dia de rotina alterada, fugindo da etiqueta urbana e da insistente preocupação com o mundo ao redor, dei-me ao desfrute de desgarrar de tudo e somente compor a paisagem entre o céu, a areia e a brisa do mar, com o pensamento desarmado, focado no infinito, comandando sem compasso, indeterminado caminhar. Pequeninos pontos na areia, uma insignificância diante da imensidão do olhar. Panorama de beleza infinda, que a nossa presença em nada pode alterar. Mas frente a essa certeza, turbilhões de pensamentos invadem o nosso ego, espinham nossos conceitos e concepções da vida, travando uma batalha silenciosa entre o mundo real e o mundo ideal. E caminhamos sobre a areia, que nos acolhe moldando as nossas pegadas, recepcionando com encantamento o nosso abismar. Aos nossos ouvidos, o zunido de uma nota só, em tom menor, com acorde extraído pelos dedos do vento nas cordas sonoras das ondas do mar. E despido de tudo, em total êxtase contemplativo, o inegável grito: Para onde queres ir? E sem respostas prontas, apenas processamos, inconscientemente: só queria ficar.