BABY, BIDU E CHOPPINHO

Não chego ao extremo dos que acreditam que “quanto mais se conhecem os homens, mais se apreciam os animais”, mas adoro cachorros. As crianças pequenas têm a mesma espontaneidade, por isto são apaixonantes. Mas que fique bem claro, gente é gente, animal é animal, sem confusão, que eu nem poderia fazer, com dois filhos e três encantadores netinhos. Meus três poodles, Baby, Bidu e Chopinho, mãe, pai e filho, são de uma afetividade impressionante: a gente vai ao subsolo levar o lixo e, quando volta, parece que se esteve uma temporada na China. Passei muitos anos afastado dos bichos, por circunstâncias da vida, principalmente, mas também por um trauma com meu fiel escudeiro Kojac, um boxer de pedigree, atropelado e que tive de mandar sacrificar por haver partido a coluna vertebral, quando meu filho ainda era pequeno. Ainda dói ao escrever a respeito. Não deveria ser tão sentimental com meus cachorrinhos, especialmente com Chopinho, que vivem a me causar prejuízo material e despesa. Nem vou enumerar aqui os móveis, portas e objetos que já danificaram, mordendo ou mijando. Vou dar um exemplo: o meu PC é daqueles com CPU integrada, teclado e mouse sem fios, bem compacto. Agora comprei um novo, mas o primeiro, adquirido há uns dois anos, começou a apresentar manchas de tinta na tela, dificultando a leitura. Custei um pouco a dar-me conta, mas era o sacana do Chopinho que mijava nele com a maior desfaçatez. A história de que o cão mija para demarcar território é verdadeira, mas não explica a dimensão inteira dos fatos. Chopinho faz isto quando a gente sai de casa fora dos horários habituais, por protesto contra o abandono; mija no porta-retratos da minha cabeceira e nos lugares mais improváveis, demandando tudo que é espécie de medida protetiva e cautelar. Melhorou um pouco, mas a tela do novo PC está com uns baitas borrões. Quando a gente está em casa, é praticamente um santo, mas faz enorme pressão nos horários tradicionais para “passear” na quadra. Se você não gosta de cachorro e tem pouca interação com o reino animal, certamente não me compreenderá e fará muitas críticas, tudo bem, mas, pra mim, é como dizem “Ajoelhou, tem de rezar”. Ademais, os bichinhos dão muita alegria, enchem a casa, encantam os netos, criam rotinas interessantes. Temperam a vida. O que não significa que a gente, de vez em quando, não necessite de umas “férias” de tão intensa companhia embora eles sofram demais com a ausência da gente. É uma raça muito apegada e afetiva. O mais interessante, creio, é a história da Baby, esposa de Bidu e mãe de Chopinho. Baby tem uns nove anos e está conosco há um ano e meio, no máximo. Era da empregada de meu falecido sogro e morava em Torres, criada no pátio da casa. A pobre cadelinha caiu certa feita no rio Mampituba, que passa bem na frente da casa em que residia, tendo sido encontrada no meio de uns matos, dois dias depois. Baby, acredito que por falta de maiores cuidados, tem catarata em ambos os olhos e é praticamente cega. Minha mulher, penalizada, resolveu trazê-la da praia, com todo apoio da antiga dona. Quando aqui chegou, tinha uma pelagem detonada, infecção séria nos ouvidos e a questão sem cura da catarata. Relutante, no princípio, cedi pela paixão que a cadelinha espontaneamente dedicou a mim. Gastei os tubos para deixá-la na melhor condição possível. Hoje, embora ainda meio ceguinha, ostenta uma pelagem linda, está gordinha, faceira e vive grudada em mim, com uma dependência impressionante, que emociona. E assim caminha a humanidade.