A CRÔNICA DO DESCOBRIMENTO (carta não oficial do aprendiz de brasileiro José da Silva )
Desta terra em se plantando tudo dá pelos bons ares e bons frutos que tem. As águas, muitas e também boas são um espetáculo à parte. Pátria mal amada Brasil.
Das naus pés europeus fizeram a América. Uma América perdulária e preguiçosa e atrasada e presunçosa. Pátria desfigurada Brasil. Uma América cheia de cores e fantasias e preconceitos. Odores.
Aqui tem carnaval e futebol. Mas aqui também tem fuzil, cracolândia, gente do bem e gente do mal. Aqui tem festa e alegoria. Tem também silêncio e anestesia.
Desta terra em se plantando tudo dá... E até o que não há. Pátria caótica Brasil. Terra de Ninguém. Casa da Mãe Joana. Todo mundo dança. E a mão do pobre quase não alcança. A mão do político avança. As leis esperam a esperança. E a esperança nunca vem. Pátria Mãe senil. De janeiro a janeiro: roubalheira, conchavo, disse-me-disse, troca de favores, jeitinho, toma lá da cá, a gente resolve, deixa disso, mutreta, muvuca, sinal fechado e sujeira pra todo lado!
Desta terra em se plantando tudo dá pelos bons ares e bons frutos que tem. E dá político, jogador, modelo o ano inteiro. E dá treinador, juiz, ladrão o ano inteiro. E dá taxa, juros e imposto o ano inteiro! E dá pac´s e pec´s e pic´s o ano inteiro! Sorri o servente, sorri o porteiro. Pátria desbundada Brasil!
E este escrevente aprendiz de gente, na ausência de capitão ou oficial escrivão, com pena, papel e aguardente, faz saber das maravilhas desta terra indecente. Pátria calada Brasil.