Momentos

E por um momento eu vi o meu canto-pássaro se esvair em lágrimas.

Eu era como quem nascia pela primeira luz de neón, em noite fria.

Aspecto reluzente de quem se sente um só no ninho da vida.

Como quem não tivesse ninguém por si, apesar de ser luz.

A única revelação não trazia otimistas mensagens de confraternização.

E tudo me era solidão.

Lembranças não eram receio.

O suspiro meio sem-vida.

A luz do dia não me tocava, e eu nem me sentia.

Eu chorava em meio a festas de outros.

Quem, meu Deus, poderia nelas se entristecer, se havia nos sorrisos tanta alegria?

A chuva me recordava momentos que não eram recreio

Eu suspirava meio sem-vida, sem ousar.

E tudo me era receio...

Não posso sair do ovo sem quebrá-lo.

Não posso sair da vida sem condenar-me

e deixar tristes alguns que desejei a vida inteira jubilados.

Onde estão as correias que me prendem ao passado que não me constrói?

Saídas buscadas à frente, ao longe;

na corrida da vida, o passar veloz.

A vida é luz e corre como tal.

Eu me sentia assim:

Tudo me era agudamente morte!

Meus próximos se afastam,

meus mortos só vivem na minha memória.

Porque para sempre vão embora?

Para que vim, se não permanecerei?

Como vou se não sei como cheguei aqui?

Quem me conservará no peito

quando eu for para nunca mais voltar?

Só peço ao destino que a saudade mate

o que um dia eu deixei vivo!