Eu me entristeço...

Enquanto isso, deste lado do hemisfério, no país do Tio Sam, um país treinado para o terrorismo e preparado para qualquer inimigo, cuja inteligência militar e serviço de espionagem são imbatíveis, armado de mísseis e bombas, equipado de submarinos, aviões e tanques de guerra, e condecorado com medalhas a perder de vista, um jovem de vinte e três anos planeja a morte de trinta e um inocentes, colegas seus de faculdade, num massacre memorável, debaixo de olhos que assistiram impassíveis à execução de seu plano.

Um jovem, nem tão forte e musculoso, talvez não dono de uma mente brilhante, apenas um jovem que pedia ajuda desesperadamente através de seus textos apresentados na própria faculdade. Um jovem submetido à avaliação psiquiátrica e liberado com o diagnóstico: “ele só pode causar mal a sí mesmo!”, como se isso não fôsse motivo suficiente para mantê-lo encarcerado num hospital. Um jovem perdido e confuso, que lutava para controlar a própria raiva. Raiva de quê? Nem sei... de tudo e de todos. Raiva por ser de uma raça diferente, raiva por não ter nascido rico, raiva por não ser bonito e popular. Esse tipo de raiva que todo jovem tem, até mesmo eu tive... mas ele foi diferente de todo mundo. Esse jovem teve ainda a frieza de se dirigir a um posto do correio, logo depois do primeiro ataque, e enviar um pacote com seu desabafo a uma TV americana, para dar a seu plano um desfecho mais que dramático. Ele tramou uma vingança cruel demais e a executou debaixo do nariz de um país preparado para qualquer inimigo. Um país que ficou, assim, passivo, talvez para vermos o quão despreparados estamos, por mais preparados que nos consideramos ser, e o quanto somos pequenos...

Eu, que agora moro longe das balas perdidas do eixo Rio-São Paulo, moro a três horas dessas balas não perdidas, mas destinadas a arrancar deste mundo, vidas de pessoas tão-somente cheias de vida e tão inocentes quanto a minha gente lá no outro lado do hemisfério.

Eu me entristeço...