ESTAÇÃO VIDA

A primavera chegou, com suas flores e apesar delas,

o seu primeiro domingo chuvoso.

Apagou-se a poeira e Já não mais aflige,

da seca a angustia certeira.

Manhã cinzenta de fina garoa,

casarios encobertos, o sino da igreja,

eletrônico, mas ainda repicando,

e insistindo em que a fé existe e persiste.

E há quem não desiste.

A família ainda sonolenta, tomando o café.

Mas a mulher madrugadeira,

começa já a preparar o franguinho,

coitadinho, enquanto o marido foi escolher o quiabo

que formará dueto famoso, com um tal de anguzinho.

E tem gincana nas ruas, que sem a correria de sempre,

parecem até vazias, de carros e ansiedades cruas.

À tarde o futebol, a polícia já prepara o seu plano A.

Vamos todos pra lá?

E tem telinha e telão, face book e televisão,

com gostos e maus gostos para todos,

desde as profundas e vãs filosofias

às ideias mais nuas ou vazias.

Amanhã será outro dia, continuará a vida, virá a morte.

A morte da primavera, deixando nascer o verão.

É como a vida que chega, no choro menino,

Qual agouro tristonho, qual triste canção.

É uma vida que vem e outra que vai,

no estalar do último prego, lacrando um velado caixão.

É o renascer constante da esperança,

e sempre de uma nova paixão.

E virá o natal, o carnaval, etcétera e tal.

E certamente, o verão vai morrer e chegará o outono,

com suas manhãs nubladas e as chuvas já encerradas,

nas enchentes pouco santas, do José, mais do que santo.

Depois, um novo inverno, a poeira de novo, o rebote da seca.

Os incêndios nas matas, o prenúncio do inferno.

Mas tudo continua, na constante esperança,

no incessante renovar.

É a morte espreitando na rua, ao pipocar de tiros,

na constante matança,

num troar confuso com o foguetório da grande festança,

de Pedros e Joões, santificando a fria alegria,

aquecendo frios corações.

É a roda girando, viva ou morta, pouco importa.

É tudo continuando, repetida e eternamente durando,

na direção incerta da meta deserta.

Num único sentido, no éter perdido,

como a própria terra que nunca encerra,

no infinito espaço, seu giro sem fim.

ARAKEN BRASILEIRO
Enviado por ARAKEN BRASILEIRO em 03/11/2013
Reeditado em 15/01/2024
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