A DOR DAS FLORES
(Samuel da Mata)

                 Olhei as flores do campo e voltei-me no tempo. Tempos que a razão me diz terem sido por demais difíceis − pobreza, doenças e plena desassistência do Estado. Mas não foi por isso que para lá voltei. Voltei pela nostalgia de flores semelhantes a estas que infestavam toda a área de um campo verde em frente a nossa casa. Ah! Como é doce recordar o cheiro daquela relva colorida. Magia que transformava vidas tão sofridas em momentos únicos e belos na nossa existência. Estas flores trazem consigo o cheiro de uma infância plena, das aventuras de crianças, dos sonhos e crenças em heróis místicos, os quais a realidade, cruel e friamente, ousou destruir. Já não há mais ciclopes, nem gato de botas, nem heróis a enfrentar gigantes que invadiam o nosso mundo de fantasias. Hoje, os heróis são suspeitos, interesseiros e hipócritas. Os gatos não usam botas, usam terno e gravata ou até mesmo togas. Restaram apenas os ciclopes, povo de um olho só, mas que hoje já não enxergam nada. O olho que lhes restava foi tomado pelo clientelismo e sedução das esmolas públicas. Já não enxergam a realidade nem a miséria a que estão sujeitos. Conformam-se apenas com a papa podre que lhes colocam aos lábios em um tatear de mãos frágeis por restos corrompidos.
Samuel da Mata
Enviado por Samuel da Mata em 21/10/2013
Reeditado em 07/09/2015
Código do texto: T4534603
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